Vê Portugal: “É essencial encurtarmos as distâncias do nosso país e permitir que as várias regiões estejam ligadas”
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), esteve ontem na sessão de abertura do 10º Fórum de Turismo Interno – Vê Portugal, que termina hoje em Torres Vedras. O orador começou por saudar a decisão tomada pelo novo Governo em relação à localização do novo aeroporto, lembrando que esta nova infraestrutura permitirá não apenas receber mais turistas como também beneficiará o turismo interno, trazendo mais turistas para todas as regiões portuguesas. Mas lembrou que, até podermos beneficiar das mais-valias de um novo aeroporto, ainda será necessário aguardar talvez mais de 15 anos, bem como esperar “que não haja nenhuma reversão do que já foi anunciado, o que já aconteceu bem mais de uma vez”.
“Continua a ser essencial encurtarmos ainda mais as distâncias do nosso país e permitir que as várias regiões estejam ligadas, não só por autoestradas, mas por uma linha férrea modernizada, mais cómoda e rápida”
Por isso, o responsável defende que, enquanto se aguarda que o novo aeroporto esteja a funcionar em pleno, “o turismo não pode parar e deve continuar a adaptar-se às infraestruturas aeroportuárias que temos”. Mas também é apologista de que há mais a fazer, referindo-se aqui à ferrovia, e não apenas ao TGV. “Continua a ser essencial encurtarmos ainda mais as distâncias do nosso país e permitir que as várias regiões estejam ligadas, não só por autoestradas, mas por uma linha férrea modernizada, mais cómoda e rápida”. É algo que já acontece noutros países europeus, lembrou, onde os turistas estrangeiros ou locais recorrem ao comboio como meio de deslocação mais fácil e confortável para visitarem várias regiões e pontos de interesse. Francisco Calheiros considera assim que é importante que “Portugal reforce as suas infraestruturas de mobilidade para que, de forma mais diversa, rápida e cómoda, se visite facilmente as várias regiões do país e a sua diversidade de oferta turística”.
Para o presidente da CTP, fomentar o turismo interno promove regiões menos desenvolvidas o que, por sua vez, gera emprego, impulsiona pequenos negócios e contribui para a coesão territorial, reduzindo as disparidades regionais.
Francisco Calheiro sublinha ainda que “o turismo é valor, gera riqueza e cria postos de trabalho como nenhuma outra atividade”, tendo ainda efeitos “muito significativos” na economia pelo estímulo de outros setores. Além disso, assegura uma importante fonte de receitas fiscais e “leva mais longe o nome de Portugal”.
E os números demonstram que a atividade turística continua resiliente e a crescer de forma consolidada. Os dados mais recentes do INE revelam que no primeiro trimestre deste ano foram registados 5,6 milhões de hóspedes, uma subida de 7,7% face a igual período de 2023, que originaram 14 milhões de dormidas (+7%). Um crescimento que foi, por um lado, influenciado pelo período de férias da Páscoa e, por outro lado, pelo aumento da procura internacional, sendo que todas as regiões registaram aumento de dormidas. Os números do primeiro trimestre, ainda que com uma ligeira quebra em abril, “são um bom sinal do que poderá ser o verão deste ano”, acredita Francisco Calheiros. E diz: “Se 2024 for igual a 2023 já será um ótimo ano turístico, até porque sem um novo aeroporto dificilmente conseguiremos crescer muito mais”.
E o crescimento da atividade é precisamente um dos grandes desafios que se colocam. Mas o presidente da CTP aponta outros, que não deixam de ser preocupantes, como a privatização da TAP, a execução do PRR, as questões fiscais e laborais, ao que se junta, a nível internacional, a instabilidade que persiste com guerras ainda no terreno e as consequências de várias eleições que ainda se realizam este ano a nível mundial.
O que significa que se continuam a viver tempos incertos, mas Francisco Calheiros aponta algumas medidas que “ajudam e muito, no imediato, as empresas do turismo e a economia em geral”. Começando por uma reforma do Estado, para que este se torne “mais ágil, menos burocrático e olhe mais para as empresas que bem necessitam, por exemplo, de pagar menos impostos e ter menos custos de contexto”. Por outro lado, defende que se dê uma maior atenção à definição dos apoios à internacionalização e ao reforço da promoção externa.
“devemos reforçar a estratégia de criação de novos produtos turísticos em todas as regiões do país, nunca esquecendo os produtos de turismo tradicionais em Portugal”
E como o turismo interno continua em crescimento, em simultâneo com uma maior promoção, “devemos reforçar a estratégia de criação de novos produtos turísticos em todas as regiões do país, nunca esquecendo os produtos de turismo tradicionais em Portugal”, argumenta o orador.
Por outro lado, para Francisco Calheiros, é essencial reforçar a atenção dada à sustentabilidade que, cada vez mais, está no topo das prioridades dos turistas quando escolhem um destino. E tendo em conta os turistas, o responsável acredita que “temos que evitar qualquer crítica que possa surgir e ponha em causa a nossa imagem”, pelo que indica que “não podemos ser apelidados da atividade das taxas e taxinhas”. Neste âmbito, o presidente da CTP admite ser contra a taxa turística, defendendo outras formas de compensar os municípios. E aqui recordou o ano de 2018 quando se defendeu o chamado IVA turístico, uma forma de os municípios terem acesso a 5% das despesas de alojamento, restauração, combustíveis, entre outros. “Através desta coleta de IVA eram compensados pelo aumento das despesas que tinham por causa do turismo”, explica, reafirmando que “esta seria uma solução mais justa de compensar os municípios”.
Por Inês Gromicho