“Políticos somos todos, sempre que tomamos decisões”

Entrou no turismo em 2006 e cedo se apercebeu de que este era um setor dinâmico e profissional, mas com alguns problemas que ainda hoje estão por resolver. Hoje, à frente do Turismo Centro de Portugal, Pedro Machado, também ele “filho” desta grande região, fala do que tem sido feito nesta entidade e de como tem procurado posicionar o Centro do país como um destino com produtos com potencial de captar mercados internacionais.

pedro_machado18Como se cruza a sua vida com a atividade turística?

Isso acontece em 2006, quando exercia funções de vice-presidente da Câmara Municipal de Montemor-o-Velho, responsável pela pasta do Turismo, entre outras áreas, e por força de um convite que me é dirigido pelos autarcas da antiga Região de Turismo do Centro, o qual aceitei. O Pedro Machado chega ao turismo no dia 1 de Setembro de 2006.

Qual a primeira impressão do setor?
Tenho uma primeira impressão de um setor dinâmico, em alguns casos com elevado grau de competência e profissionalismo, mas também com problemas por resolver, que hoje ainda procuramos solução. Estamos a falar de um amadorismo associado à componente turística, de uma fortíssima e reconhecida municipalização da atividade turística, sobretudo nos territórios que estão associados a destinos menos maduros, como o Centro de Portugal, o Alentejo e o Norte. Existia também uma perceção clara de destinos maduros que, por essa via, são destinos que se continuam a afirmar e que hoje reconhecemos que são bandeiras do país, caso de Lisboa, Algarve e Madeira. Tive essa perceção clara, de que havia várias divisões na atividade do turismo, havia ligas diferentes. Essa, felizmente, é uma ideia que se tem vindo a esbater.

pedro_machado09O que mudou de 2006 até hoje?
De 2006 para 2016 assistimos a mudanças profundas, nomeadamente por força das mega tendências do turismo internacional que condicionam não apenas a atividade nacional mas também as dinâmicas regionais. Há uma alteração profunda no paradigma, que considero que está essencialmente naquilo que é hoje o tipo de consumidor que temos em Portugal, não apenas por força da evolução tecnológica, da inovação, não apenas porque hoje tem instrumentos que lhe permitem tomar decisões ao nível da preferência do destino, ao nível da diferenciação do produto, ao nível até de influenciar o próprio preço que quer pagar. Há também uma alteração profunda no domínio do que são hoje os canais da distribuição e da própria promoção. Há problemas estruturais do país que se mantém, como o da sazonalidade, da estadia média em Portugal. No Centro é o caso do problema da litoralização da atividade turística. Não é por acaso que é criada, já com este Governo, uma unidade de missão para os territórios da baixa densidade. Temos alterações profundas no paradigma da atividade turística, sobretudo ao nível da procura. Há aqui vasos comunicantes entre uma procura que determina e acelera muitas das vezes aquilo que a oferta tem que corresponder, mas também não deixa de ser verdade que há hoje ofertas, nomeadamente em alguns destinos, que condicionam e influenciam a procura. Há aqui um meio-termo que tem de ser observado.

O Pedro Machado é um político por natureza…
Sou um homem que se entregou à causa pública por opção. Cito Thomas Jefferson quando este diz que “quando nos entregamos à causa pública passamos a ser públicos também”. Isto é um modo de estar na vida. Assumi a causa pública como opção de vida. Fiz formação a vários níveis, hoje sou aluno de Doutoramento na Universidade de Aveiro em turismo. Assumi esta forma de estar na vida e procuro que esta atividade possa corresponder entre aquilo que é a missão enquanto gestor de um destino e simultaneamente líder de uma equipa. Liderança essa que procuro que seja transversal e partilhada.

O que é para si a causa pública?
A causa pública é assumirmos desde o início que é possível, através do nosso desempenho, dos meios que temos disponíveis, transformar e colocar ao serviço da comunidade aquela que é a nossa missão principal. A missão principal do Pedro Machado hoje, enquanto responsável do Turismo do Centro de Portugal, é fazer com que a atividade turística da região seja mais atrativa, mais competitiva, possa receber mais turistas, possa gerar mais receitas e que estas sejam colocadas ao serviço do desenvolvimento da região.

Isso é a missão de um político, no turismo…
Se entendermos aqui o político enquanto gestor da causa pública, o Pedro Machado é um gestor da causa pública e um político. Políticos somos todos, sempre que tomamos decisões. Há uma diferença entre políticos partidários. Também já exerci funções partidárias, até 2008, e por opção, logo que abracei o desafio do Turismo do Centro de Portugal por força do Decreto-Lei 67/2008, em que há uma alteração profunda em relação ao mapa regional do Centro de Portugal, entendi deixar de exercer qualquer função de nível partidário.

pedro_machado49Ser presidente de uma Entidade Regional do Turismo é complexo?
Por força da minha formação de base sempre perfilei um slogan voltairiano: “não queiras conquistar à força, aquilo que não foste capaz de conquistar através da razão”. Esse é o instrumento que julgo que me define do ponto de vista da capacidade de poder gerir e liderar. Sou daqueles que não precisa de falar alto para ter razão e que não quer conquistar à força o que não for capaz de convencer através do diálogo. A marca Centro de Portugal está alavancada num triângulo que chamaria virtuoso, o território representado através dos municípios, os produtos trabalhados em articulação com as empresas e com os empresários, e o modelo de governação assente nesta parceria que tem meios públicos regionais e centrais. Este triângulo tem sido, do nosso ponto de vista, o modelo que nos tem ajudado a garantir a capacidade de estarmos hoje no ponto em que estamos: chegar a 2015 com um número recorde de dormidas, receitas e hóspedes. Isso foi possível devido ao trabalho conjunto entre território, autarquias/municípios, empresas/operação e liderança regional alavancada no modelo de governação e desenvolvimento regional que deriva da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro, parceiro fortíssimo do Turismo do Centro, e obviamente na articulação quer com o Turismo de Portugal quer com o Governo.

Onde está a diferença entre uma política de esquerda e de direita para o turismo?
Conheci bem as tutelas de Bernardo Trindade e de Adolfo Mesquita Nunes, e agora a tutela de Ana Mendes Godinho. São modelos absolutamente distintos que, do ponto de vista dos fins, têm traços idênticos. O modelo de Adolfo Mesquita Nunes era absolutamente liberalizado, muito assente na iniciativa privada e com maior reconhecimento da componente pública, quer do papel do Estado enquanto regulador da atividade turística, quer da própria participação das entidades públicas no processo de criação e de desenvolvimento do setor do turismo. O desafio de Adolfo Mesquita Nunes era que o papel principal passasse para a componente privada, que é determinante na atividade turística, mas não é por si só capaz de regular a atividade turística. Mas os privados não têm ainda hoje condições de assumir e liderar a promoção turística de Portugal, e isso está visto. Está visto através dos modelos dos Planos de Comercialização e Vendas, em que é preciso que o Estado e as Entidades Regionais co-financiem 50% dos planos. E está visto mesmo naquele grande desafio lançado de se criar uma Agência Nacional para a Promoção Turística com o Turismo de Portugal e Confederação, que não teve sucesso. Hoje percebe-se que há uma alteração em relação a esse modelo, há um domínio maior da componente pública, há um papel mais musculado do Estado, nomeadamente na componente reguladora da atividade turística. Isso é percecionável através da intervenção da secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho. A componente pública é muito importante para o turismo. O equilíbrio entre a componente pública e privada, do meu ponto de vista, é que irá granjear um futuro sucesso.

Qual a sua ideia de ambição…
A ambição não pode ser entendida como defeito. Gosto sempre de me colocar no papel do otimista moderado, aquele que tem a perceção clara de onde está, mas traça objetivos para onde quer ir. Isso é determinante quer para a motivação própria, quer para a motivação das equipas. A ambição significa também algum otimismo. O otimismo é determinante sobretudo para aspetos tão relevantes como a captação de novos investimentos ou a consolidação de investimentos que eventualmente não estariam para ser feitos na nossa região, senão tivéssemos essa capacidade de ver mais além do limite do horizonte.