Por Anabela Monteiro, Coordenadora da Universidade Europeia Online
O inverno em Portugal é uma oportunidade para redescobrir ou descobrir um país sob um olhar diferente. Com temperaturas amenas e um património cultural, natural e gastronómico singular, esta é a época ideal para atrair turistas que procuram experiências autênticas e diferenciadas. No entanto, o turismo de inverno em Portugal ainda enfrenta desafios que é necessário superar para aproveitar todo o seu potencial. Os dados de 2024 ilustram bem esta tendência: segundo a Road Genius, foram registadas 3.718.363 noites em estabelecimentos de alojamento turístico em janeiro, comparativamente a 12.613.343 noites em agosto. Esta diferença significativa reflete o maior fluxo turístico nos meses de verão.
Um dos problemas mais graves é o investimento desproporcional em ações promocionais focadas na época alta, com pouca visibilidade para a oferta de inverno. Embora a aposta no verão ainda predomine, verifica-se um esforço crescente para destacar o “Portugal oculto” e mais frio. Alguns operadores já reconhecem o potencial de atrair turistas no inverno, especialmente os que procuram experiências imersivas, que os conectem às comunidades e os afastem da multidão típica do verão.
Outros fatores que contribuem para a dificuldade em atrair turistas nesta época incluem:
- Ofertas Limitadas: muitos operadores, como alojamentos e atrações turísticas, reduzem ou encerram temporariamente as suas atividades durante o inverno, resultando numa oferta pouco diversificada.
- Concorrência com outros destinos: vários países aproveitam as festividades de inverno, mercados locais, eventos sazonais e programas criativos para atrair visitantes, intensificando a concorrência.
- Perceção limitada das atividades: Portugal é frequentemente associado ao verão e às praias, o que leva à subestimação das experiências de inverno por parte dos turistas.
Apesar do seu encanto na estação fria, o país ainda não é amplamente reconhecido como um destino popular de inverno. Este conjunto de desafios destaca a necessidade de estratégias criativas para promover Portugal como um destino atrativo mesmo nos meses mais frios.
As termas, atração em declínio, podiam ser aproveitadas, especialmente no inverno, muitas rodeadas de paisagens que adquirem um aspeto místico. Portugal possui 44 termas ativas (DGEG, 04/10/2023), oferecendo experiências de termalismo, bem-estar e lazer. 49% estão na região Centro e 43% na região Norte (TravelBI). O FMI prevê um crescimento de 18,1% no setor termal até 2025, posicionando-o como o segundo setor com maior potencial na economia do bem-estar. No entanto, é um mercado pouco explorado. Apesar da capacidade, infraestruturas e clientes, é fundamental que estas ofertas sejam reconhecidas na indústria do turismo.
Muitas regiões menos conhecidas, como algumas aldeias transmontanas e localidades alentejanas, têm pouca visibilidade no mercado turístico, apesar de serem destinos encantadores no inverno. Estas áreas oferecem paisagens deslumbrantes, tradições autênticas e uma tranquilidade única, tornando-as perfeitas para quem procura uma experiência genuína e diferenciada durante a estação fria.
Apesar dos desafios, Portugal tem um enorme potencial por explorar. Desde paisagens rurais encantadoras até experiências culturais ímpares, o país oferece uma variedade de produtos turísticos capazes de proporcionar momentos memoráveis. Três destinos exemplares destacam-se como prova de que o turismo de inverno pode ser promovido de forma inovadora e cativante:
Alentejo – “O equilíbrio”: “Uma paisagem essencial, de que pode orgulhar-se um homem, quando lhe reflecte o rosto ou a alma.” (Eugénio de Andrade, 1997)
A vila de Cumeada, eleita “Melhor Aldeia Turística” em 2022, destaca-se no Alentejo. A Reserva Dark Sky proporciona uma observação celestial espetacular, perfeita para os amantes da astronomia. Os visitantes podem explorar monumentos megalíticos como o Cromeleque do Xerez e a aldeia de Monsaraz, bem como a Barragem do Alqueva, o maior lago artificial da Europa. A deliciosa gastronomia local, com pratos como migas de espargos e ensopado de borrego, e os acolhedores alojamentos em quintas, contribuem para uma experiência inesquecível.
Já ouço: “Bom dia, minha senhora! Venha cá para junto de mim, está quentinho! Vamos conversar e comer um bom pão alentejano com um queijinho?”
Trás-os-Montes – “Reino Maravilhoso”: “A terra é a própria generosidade ao natural. Como num paraíso, basta estender a mão.” (Miguel Torga, 1941)
No Parque Natural de Montesinho, a aldeia de Rio de Onor é uma das últimas comunidades tradicionais de Portugal. Com a sua arquitetura genuína e um estilo de vida preservado, é o local ideal para recarregar baterias. Percursos pedestres, como o Trilho de Rio de Onor, revelam a biodiversidade da Reserva da Biosfera da Meseta Ibérica. A gastronomia local, com especialidades como o butelo e as casulas, e os alojamentos rústicos, como a Casa da Portela, oferecem todo o conforto de que precisa no inverno.
Já ouço o crepitar da lareira a chamar por mim!
Alcobaça – “A Rainha feia-bonita”: “Quem passa por Alcobaça Não passa sem lá voltar” (Maria de Lourdes Resende, 1955)
O Mosteiro de Alcobaça, classificado como Património Mundial pela UNESCO, é um dos principais pontos de interesse da região, onde repousam D. Pedro I e D. Inês de Castro. A história de amor trágico inspira a exploração do Jardim do Amor. A região oferece uma variedade de atividades, incluindo a Rota dos Mosteiros, turismo termal nas Caldas da Rainha e desportos na Lagoa de Óbidos. Os doces conventuais, como as cornucópias divinais, e o frango na púcara, proporcionam uma experiência gastronómica autêntica.
Já consigo sentir o aroma dos doces: “É de dar água na boca!”
O turismo de inverno em Portugal tem um futuro promissor, com oportunidades de crescimento através da valorização de regiões menos exploradas e promoção de experiências autênticas em paisagens cénicas. É urgente reforçar infraestruturas, melhorar a acessibilidade e valorizar atrativos turísticos com narrativas memoráveis. É fundamental investir na promoção, na melhoria das infraestruturas de acolhimento, na diversificação da oferta turística e no desenvolvimento de narrativas que realcem o charme do inverno português. É necessário envolver pessoas, empresas e a comunidade científica, criando cooperação para implementar soluções que reforcem estratégias para atrair turistas. Com uma estratégia estruturada e coparticipação, é possível promover o país como destino atrativo durante todo o ano.
Eu vou fazer a minha parte, deixando uma frase de promoção: “Experimente o encanto, Portugal: O destino mais quente do inverno!” /”Experience the Charm, Portugal: The warmest winter destination!” E, caros leitores, o que vão fazer para contribuir?
A imersão cultural em Portugal durante o inverno proporciona uma ligação única com a tradição e as comunidades locais, oferecendo aventuras repletas de experiências autênticas e memoráveis. No inverno, Portugal adquire uma atmosfera mágica com o frio e a sua luz peculiar, podendo ser descoberto como uma estação encantadora, com paisagens místicas e inúmeras possibilidades de exploração.
