Opinião: “Os desafios do Turismo em Lisboa”

Por Vítor Costa, diretor geral do Turismo de Lisboa e presidente da Entidade Regional de Turismo da Região de Lisboa*

Incerteza é o que caracteriza a atividade turística nos próximos tempos.

Confiança é o que tem que orientar a ação de todos os parceiros na região de Lisboa.

Depois de um ano de 2022 em que a atividade recuperou mais do que se esperava, apesar de o primeiro trimestre ainda ter sido afetado pela pandemia, estariam à partida reunidas as condições para uma nova fase de desenvolvimento.

A recuperação foi virtuosa. Enquanto os indicadores quantitativos como o número de passageiros no aeroporto, o número de hóspedes e o número de dormidas ainda ficaram aquém de 2019, os indicadores económicos como o preço médio do quarto vendido, o RevPar ou os proveitos do alojamento subiram 14%.

Mesmo descontando o efeito do aumento de custos, existiu um aumento líquido da rentabilidade do setor da ordem dos 5% a 7%, absorvendo o aumento da oferta, que nunca parou de crescer!

Não nos interessa o chavão propagandístico do “melhor ano turístico de sempre”. Melhorar em cada ano é uma obrigação, a menos que haja uma situação de crise como a que atravessámos recentemente.

Mas interessa-nos constatar que os resultados de 2022 são um sinal de esperança e um novo fôlego para o “microcosmos” do Turismo, que deu ânimo às empresas e permitiu iniciar a recuperação dos anos negros da pandemia, por parte dos que a ela conseguiram sobreviver.

Este “microcosmos” é o verdadeiro coração do Turismo. Sem os milhares de empresas que asseguram os serviços, a experiência dos visitantes, a diversidade da oferta, não haveria Turismo. E, agora, já sabemos o que custa viver sem Turismo…

O ano de 2022 foi, assim, um “suplemento de alma”, dando esperanças de que o essencial tenha sido salvo. Desde que haja continuidade.

Mais do que programas de apoios públicos, que continuam a ser necessários, o essencial é que não faltem os clientes. Só os clientes poderão dar sustentabilidade ao tecido empresarial.

Mas é precisamente aqui que resulta a incógnita, a incerteza. Continuarão em 2023 e anos seguintes a aparecer os clientes em número e “qualidade” suficiente?

A incerteza é grande. A guerra da Ucrânia e o seu custo que os europeus têm que pagar, terá consequências. O aumento dos combustíveis, da energia, dos alimentos e bens essenciais, do transporte aéreo, a inflação generalizada, o aumento das taxas de juro, trarão menos disponibilidade económica para os consumidores europeus.

Para Lisboa, os mercados europeus representam mais de 80%. Estudos feitos a propósito de anteriores crises económicas mostram que um dos primeiros custos a cortar pelas famílias quando há redução de rendimentos são as viagens. E os primeiros custos a reduzir pelas empresas são o marketing e o pessoal.

Tudo isso se reflete de forma direta e imediata no Turismo, potenciado por fatores psicológicos. Olhando para os resultados dos mercados deste ano vemos os sinais. Veja-se, por exemplo, a quebra verificada no mercado alemão e, mesmo dos nórdicos, para já não falar dos mercados de Leste.

É certo que há algumas compensações como o mercado inglês e irlandês e, sobretudo, o aumento do mercado dos EUA e, também, do Canadá.

Mas convém não ter ilusões. O conjunto dos mercados europeus continuará a ser a melhor aposta estratégica porque é na Europa que se vive melhor, que há mais direitos, que há mais estabilidade, que há mais acessibilidade ao nosso destino.

Esta é a realidade, sem desvalorizar os mercados dos EUA e do Brasil e, sobretudo, sem criar ilusões acerca de outros mercados, nomeadamente dos mega mercados, que nunca nos poderão dar o mesmo.

É por isso que, como muitos outros, dizemos que a incerteza é a única coisa certa que temos nos próximos tempos.

Mas encaramos estes tempos com confiança porque sabemos que o destino Lisboa cada vez tem mais projeção internacional e capacidade de atração, temos uma estratégia clara, amplamente consensualizada entre todos, temos uma oferta de qualidade e profissionalismo internacionalmente reconhecido.

Por isso estamos preparados para enfrentar os desafios.

*Este artigo foi publicado na edição 342 da Ambitur.