Opinião: A Sazonalidade no Algarve: Impactos nos Recursos Humanos, Sociais e Económicos vistos por um Diretor Hoteleiro
Por Tiago Afonso Pais, diretor do NAU São Rafael Suites
O Algarve é um dos destinos turísticos mais procurados em Portugal, destacando-se no mercado de sol e mar. Em 2023, a região registou 20,38 milhões de dormidas e gerou receitas superiores a 1,5 mil milhões de euros, com um aumento de 9,5% face a 2022. No entanto, a dependência do turismo apresenta desafios devido à sazonalidade, especialmente na escassez de recursos humanos, nacionais e imigrantes.
A Sazonalidade e a Economia Regional
A sazonalidade turística no Algarve provoca variações na procura por serviços e na criação de emprego. Durante o hashtag#verão, a taxa de desemprego diminui, mas no resto do ano há escassez de oportunidades, gerando flutuações económicas e sociais. Este fenómeno limita o aproveitamento das infraestruturas e da força laboral, resultando em subaproveitamento de recursos fora da época alta.
A economia local tem dificuldades em diversificar a oferta.
Embora o golfe e o enoturismo estejam a crescer, ainda não conseguem compensar totalmente a baixa procura. O golfe, por exemplo, atraiu 1,4 milhões de voltas em 2023, mas com impacto limitado.
Recursos Humanos: Um desafio constante
A sazonalidade agrava a dificuldade de contratar e reter trabalhadores qualificados. Muitos profissionais locais deixam o setor devido à instabilidade fora da época alta. A região depende de imigrantes para preencher vagas sazonais, especialmente em hotelaria e restauração. No entanto, a falta de políticas públicas que garantam boas condições de trabalho e integração limita o impacto positivo dessa mão-de-obra.
Efeitos Sociais e Culturais
Socialmente, a sazonalidade sobrecarrega os serviços públicos no verão, enquanto a falta de emprego no inverno contribui para a emigração e o envelhecimento demográfico da região. Culturalmente, o turismo de massas ameaça as tradições locais e dificulta a preservação da identidade algarvia.
Soluções Potenciais
É essencial reduzir a dependência do turismo sazonal. A promoção de eventos culturais e desportivos durante a época baixa pode equilibrar a procura. A diversificação económica, incentivando o enoturismo e o ecoturismo, também é fundamental.
A formação e incentivos para retenção de trabalhadores locais são cruciais. Políticas públicas que promovam a contratação fora da época alta e melhorem as condições para trabalhadores imigrantes podem aumentar a estabilidade no setor.
Embora o Algarve seja um destino turístico de sucesso, a sua dependência da sazonalidade apresenta desafios económicos, sociais e culturais. Uma abordagem integrada, envolvendo o setor público e privado, pode ajudar a região a alcançar maior sustentabilidade e competitividade ao longo do ano.