A Ambitur.pt volta a oferecer-lhe esta rubrica inteiramente dedicada à Rota Vicentina com o intuito de convidar os nossos leitores a embarcarem numa viagem pelo Sudoeste e a conhecerem de perto o que é possível ver e viver nesta região. E quem melhor do que os empresários locais para mostrarem o que a Rota Vicentina tem de melhor? Hoje embarcamos com a Conceição Gonçalves que nos dá a conhecer a Maresia do Mira.
Como se descreve, na primeira pessoa, a proprietária da empresa?
O meu nome é Maria da Conceição Gonçalves, mais conhecida por “São do Barco” ou a “São” da Barca da passagem, para os mais velhos. Sou natural de Vila Nova de Milfontes e sempre vivi aqui. Nasci numa pequena casa perto do porto das barcas, “o canal”, como era conhecido o porto dos barcos dos pescadores. Cresci a ouvir o Mar e a ganhar respeito por ele, pela natureza circundante de canaviais junto às falésias, aos campos de cereais salpicados de papoilas com cheiro a maresia…sinto-me privilegiada por ter nascido aqui.
Que tipo de atividade desenvolve?
Desenvolvo a atividade marítimo-turística no Rio Mira. A Maresia do Mira está situada junto ao Porto de São Clemente, onde fica a bilheteira e de onde parte o barco, tanto para as travessias, como para os passeios no rio Mira. Os passeios têm vários itinerários possíveis e funcionam também em parceria com outras empresas. A principal atividade são as travessias para a Praia das Furnas, durante quase todo o ano, graças à procura dos caminhantes da Rota Vicentina. Durante a época balnear são mais os “turistas de praia” tanto nacionais como estrangeiros, nos restantes meses do ano somos essencialmente procurados pelos turistas atraídos pela Rota Vicentina.
Como surgiu o interesse em explorar este negócio? O que esta região tem de tão especial?
O negócio já pertencia ao meu pai desde os anos 70, que por sua vez tinha sucedido a outro pescador, o Joaquim Viola como era conhecido, que fazia as travessias do Mira ajudado pela filha. Por coincidência, ou talvez não, também eu desde tenra idade comecei a embarcar com o meu pai, a apoiá-lo nas manobras, era uma aventura pegada…. Acabei por criar uma forte ligação a esta atividade. No início dos anos 90, por motivos de saúde, o meu pai teve de se retirar e eu pela necessidade de ajudar a família, abdiquei dos estudos e peguei no negócio por conta própria com a aquisição de uma embarcação de madeira antiga e tradicional. Já lá vão tantos anos e eu continuo apaixonada pelo que faço. Esta região é especial, em primeiro lugar porque é a minha terra natal – a minha casa – depois porque tem uma beleza natural e uma paisagem quase intocada pelo homem e que se vê refletida no olhar de quem nos visita.
Como contribui a Rota Vicentina para o desenvolvimento turístico da região?
Muitíssimo! Foi muito importante a criação da Rota Vicentina em 2013, sem ela o meu negócio (e tantos outros) seria essencialmente sazonal. Entre 1990 e 2012 só conseguia exercer a minha atividade entre junho e setembro, na chamada época alta. Agora consigo trabalhar ao longo de quase todo o ano, o barco não fica parado, exceto nos dias de Inverno quando as condições marítimas não nos permitem operar com segurança. A Rota Vicentina veio criar emprego, veio mostrar o que de melhor temos na nossa região, na nossa costa alentejana.
O que há de diferente na atividade de acolhimento/prestação de serviços aos turistas?
O que me diferencia? Bem… Acredito que o facto de prestar um serviço regular é uma grande mais-valia, quem nos procura sabe sempre que nos vai encontrar no sítio do costume! Depois existe um verdadeiro compromisso e atenção com o cliente, eu tenho realmente gosto em sentir que as pessoas entram e saem do meu barco satisfeitas, seja para um longo passeio no Mira, seja para fazer a travessia para a outra margem. A nossa atividade é realmente muito útil para quem não tem carro ou não o quer utilizar para aceder à Praia das Furnas. Nos passeios turísticos eu destacaria o excelente acolhimento de toda a equipa que me apoia, o domínio de várias línguas e claro o conhecimento sobre a fauna e a flora deste magnífico rio.
Qual a experiência que pretendem proporcionar aos vossos clientes? Que serviços vos distinguem?
Eu defendo um turismo de experiências e aprendizagem com os naturais! Para mim é fundamental que quem nos procura saia enriquecido com as vivências que tem a bordo, com aquilo que lhe damos a conhecer; quer quando lhes mostramos as ovas de choco que se agarram ao cais; os restos de polvo e ostras que as lontras deixam no cais de embarque; o pescado, os moluscos e os bivalves que os pescadores noturnos mostram aos primeiros clientes matinais…Ou simplesmente quando lhes proporcionamos as vistas das águas espelhadas e transparentes do nosso Mira onde é possível perceber a abundância de peixes que ali crescem, as aves que habitam as margens.
De que forma se relaciona a atividade/produto/serviços com a região?
Esta atividade dá a conhecer a região a um nível histórico, das tradições e costumes que aqui se praticaram (e algumas ainda praticam) relacionadas com a vida do rio, contamos as histórias desta região também através dos quotidianos do passado, de quem fazia do rio a sua forma de ganhar a vida e depois claro que existe toda a relação a nível ambiental, nós que fazemos parte deste ambiente natural, da fauna e da flora que que nos circunda.
Da vossa oferta, se tivesse que eleger uma atividade/produto, qual seria o que melhor reflete a identidade da região?
As travessias do rio entre a margem norte (Vila Nova de Milfontes) e a margem sul (Praia das Furnas) porque é uma atividade histórica, data de 1603! Antes da construção da ponte nos anos 70, a travessia do rio era muito importante e bastante procurada pelas pessoas (a maioria não tinha carro!) quer para a praia das furnas, quer para vir à Vila, com as suas mercadorias e animais. Na altura das festas e férias anuais claro que ainda aumentava mais a procura.

































































