Na Rota Vicentina com Ana Moura do Lamelas Restaurante
A Ambitur.pt prossegue com a nova rubrica dedicada à Rota Vicentina que tem como missão convidar os nossos leitores a embarcarem numa viagem pelo Sudoeste Alentejano e a conhecerem de perto o que é possível ver e viver nesta região. E quem melhor do que os empresários locais para mostrarem o que a Rota Vicentina tem de melhor? Hoje falamos com Ana Moura, proprietária e chef do Lamelas Restaurante, localizado em Porto Covo.
Quem é a Ana Moura e como surgiu o Lamelas Restaurante?
Sou a mais velha de três irmãs e sempre gostei de fazer experiências na cozinha! Graças aos meus pais aprendi desde muito cedo a apreciar todo o tipo de comida, sempre fomos a todo o tipo de restaurantes, dentro e fora do país. A minha veia criativa revelou-se cedo e, por isso, muito nova, fiz um curso de Joalharia. Mas foi na Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, em 2008, que descobri a minha verdadeira paixão – a Cozinha.
Comecei por passar por várias cozinhas de primeiro plano, como o Restaurante Eleven, o El Almacen, em Ávila, e o Arzak, em San Sebastian, onde tive oportunidade de trabalhar com chefs fantásticos, com quem aprendi imenso, não só em termos técnicos, mas também de organização e gestão. Foram ensinamentos fundamentais, que me ficaram para a vida.
Movida pelo desejo constante de aprender, acabei por fazer também um curso de sommelier em Espanha e fui sempre aprofundando os conhecimentos sobre as culturas gastronómicas das cidades por onde passei.
Mais tarde, de regresso a Portugal, tive a oportunidade de ficar à frente de um restaurante que ia ser inaugurado em Lisboa, o Cave 23, onde pus os meus conhecimentos à prova e que me abriu o apetite para aprender ainda mais sobre Cozinha. Depois de algum tempo, optei por sair para poder aprofundar os meus conhecimentos gastronómicos, ganhar novas experiências e encontrar a minha identidade na cozinha. Abrir o meu próprio restaurante foi um passo natural. O objetivo foi sempre criar um espaço intimista e despretensioso, onde possa fazer comida que eu gosto e que partilho com os meus amigos e com quem me visita.
Que tipo de atividade desenvolve?
Sou chef do restaurante Lamelas, situado em Porto Covo. Trata-se de um projeto familiar, que é também uma homenagem à ligação da minha família a esta vila do litoral alentejano. A proposta é a de uma nova cozinha alentejana, recorrendo aos produtos e sabores locais mas tratando-os de uma forma criativa e sem preconceitos, tentando reinventar a cozinha tradicional. Quanto ao espaço é simples e descontraído, a cozinha é aberta para a sala, o que permite um contacto direto com quem nos visita.
Como surgiu o interesse em explorar este negócio? O que esta região tem de tão especial?
Os meus laços a esta região são de sempre. O meu avô materno nasceu em Porto Covo e é dele o nome Lamelas. Sempre passei férias aqui. Os meus verões eram passados a explorar estas praias, a vila e a natureza circundante. A esta forte ligação emocional a Porto Covo aliou-se a paixão pela cozinha e a vontade de trazer uma nova oferta gastronómica a esta região que me diz tanto.
Como contribui a Rota Vicentina para o desenvolvimento turístico da região?
A Rota Vicentina tem enormes mais-valias, destaco apenas três: a sua capacidade de atrair novos públicos, nacionais e internacionais, para a região; o facto de conseguir unir empresas e instituições locais numa estratégia comum e assim consolidar e fortalecer a oferta da região com benefícios em termos de imagem e comunicação. Em terceiro – mas não menos importante – a manutenção dos trilhos que continuam a ser um enorme atrativo em termos de turismo na natureza.
O que há de diferente na atividade de acolhimento/ prestação de serviços aos turistas?
Os parceiros da Rota Vicentina são pequenas unidades familiares, com alojamento e serviço de qualidade, que entendem bem o espírito dos caminhantes – na sua maioria estrangeiros – que chegam de longe à procura do estado puro de um dos poucos destinos quase virgens da Europa. Percorrer a pé a costa marítima desde Porto Covo até ao Algarve é, de facto, uma experiência física e espiritual única, uma possibilidade sem igual de conexão com a natureza, em total comunhão com a terra e com o mar. São estes amantes de caminhadas que dão vida à região durante as estações intermédias: outono e primavera.
Qual a experiência que pretendem proporcionar aos vossos clientes? Que serviços vos distinguem?
Queremos que quem nos visita consiga (re)conhecer os sabores do Alentejo, graças às tradições da cozinha tradicional alentejana aliadas aos conhecimentos técnicos que eu trouxe dos restaurantes de alta cozinha. No final, o importante é que cada prato remeta para um lugar de conforto, para a memória dos sabores que nos são familiares. Mas como nem só de comida vive o Lamelas, a carta de vinhos foi escolhida criteriosamente, com grande destaque para os produtores locais.
De que forma se relaciona a atividade/produto/serviço com a região?
O Lamelas tem como base o recurso aos produtos locais – tanto na cozinha como na garrafeira – e privilegiando sempre uma relação muito estreita com as empresas locais. Queremos ser um veículo de partilha da cultura gastronómica alentejana.
Da vossa oferta, se tivesse que eleger uma atividade/produto qual seria o que melhor reflete a identidade da região?
O produto estrela da região é o peixe e marisco. Diria que é isso que melhor representa a nossa identidade. Em termos sociais, qualquer pessoa da zona de Porto Covo tem, de alguma forma, ligação ao mar e à pesca e não é por acaso que existe o Trilho dos Pescadores. O acesso ao peixe e marisco sempre foi fácil aqui e por isso está tão enraizado na gastronomia local e, por consequência natural, também no Lamelas.