Jovens portugueses valorizam cada vez mais equilíbrio entre vida pessoal e profissional, revela estudo da Deloitte

O 2023 Gen Z and Millennial Survey, inquérito da Deloitte realizado a jovens de todo o mundo, incluindo Portugal, conclui que a flexibilidade laboral e o equilíbrio entre vida pessoal e o trabalho são as questões mais valorizadas pelos mesmos. A 22ª edição do estudo conta com respostas de mais de 22 mil inquiridos em 44 países, incluindo 400 em Portugal, sendo 200 pertencentes à Geração Z e 200 Millennials.

O estudo revela que apesar de as organizações registarem alguns progressos nos últimos anos, novos desafios estão a surgir e a afetar a capacidade da Geração Z e dos Millennials de planear o seu futuro: estão a reconsiderar o papel e a importância do trabalho nas suas vidas, priorizando a flexibilidade e o trabalho híbrido.

Em Portugal, quase metade dos jovens (49% da geração Z e 48% dos Millennials) está numa modalidade de trabalho híbrido ou remoto, e 68% da Geração Z e 75% dos Millennials afirma que consideraria procurar um novo trabalho caso o seu empregador requeresse a sua presença física todos os dias. A flexibilidade é um dos principais elementos para estes portugueses, com cerca de um quarto dos inquiridos (25% da Geração Z e 26% dos Millennials) a afirmar que permitir o trabalho remoto para os colaboradores que assim o desejem seria uma boa medida das organizações para fomentar a flexibilidade e equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho.

A nível global, 54% da Geração Z e 59% dos Millennials acredita que o trabalho híbrido é positivo para a sua saúde mental, com muitos a apontarem benefícios como mais tempo livre para estar com amigos e família, tratar de responsabilidades fora do trabalho e ocupar o tempo com hobbies, e reduzir o custo em transportes. Mas também surgem algumas preocupações: 18% da Geração Z e 15% dos Millennials sentem-se excluídos ou prejudicados pelas chefias a favor de colegas que passam mais tempo em regime presencial, e preocupa-os que o modelo híbrido ou remoto possa limitar a sua carreira, isto porque 14% acredita que pode tornar mais difícil estabelecer uma relação com colegas.

Quando questionados sobre a semana de quatro dias, 39% da Geração Z e 44% dos Millennials portugueses são a favor da implementação desta medida para ajudar a promover um melhor equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, face a 32% da Geração Z e 31% dos Millennials, a nível global.

Em Portugal, cerca de um quarto dos inquiridos (23% da Geração Z e 25% dos Millennials) afirma responder a e-mails e mensagens profissionais fora do horário habitual de trabalho, todos os dias, e 22% fazem-no pelo menos um ou dois dias por semana. A maioria diz fazê-lo para se manter a par dos últimos desenvolvimentos, ou por serem mensagens provenientes da chefia ou supervisores, mas um número elevado dos jovens inquiridos afirma sentir uma sensação de ansiedade e de dificuldade de se desligar do trabalho (19% da Geração Z e 27% dos Millennials). Contudo, os jovens que afirmam que ‘nunca/ quase nunca’ respondem a e-mails é mais alta em Portugal: 33% da Geração Z e 40% dos Millennials contra os 25% da Geração Z e 28% dos Millennials, a nível global.

77% da Geração Z e 81% dos Millennials portugueses afirmam que o fator mais importante é a sua família e amigos, com o trabalho a surgir em segundo lugar (56% da Geração Z e 62% dos Millennials). Um terço dos inquiridos portugueses (33% de ambas as gerações) aponta a capacidade de manter um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal como um dos aspetos que mais os impressionam nos seus pares, com a dedicação à família e amigos a surgir em segundo lugar na lista. Por oposição, a nível global, o valor é um pouco mais baixo: só 26% da Geração Z e 28% dos Millennials referem aquela como a qualidade que mais admiram.

Custo de vida crescente é uma das maiores preocupações destas gerações

O aumento do custo de vida é a maior preocupação tanto da Geração Z como dos Millennials, tanto a nível global como em Portugal. Cerca de metade vive “de ordenado em ordenado” e tem receio de não conseguir fazer face a todas as despesas (53% da Geração Z e 51% dos Millennials portugueses, números bastante em linha com as tendências globais: 51% da Geração Z e 27% dos Millennials).

Seguem-se preocupações como a saúde mental, a crise climática e o desemprego. Aliás, grande parte dos inquiridos afirma que será muito difícil ou impossível tomarem grandes decisões como comprar casa (72% da Geração Z e 67% dos Millennials) ou constituir família (60% da Geração Z e 57% dos Millennials) se a economia não melhorar nos próximos 12 meses. Nesta última questão, relativa à constituição de uma família, a diferença percentual entre os resultados do inquérito em Portugal é 10 pontos percentuais superior do que a nível global (50% da Geração Z e 47% dos Millennials).

Em Portugal, 44% da Geração Z e 31% dos Millennials já procuram um segundo emprego, sendo as ocupações mais comuns trabalhos esporádicos como entrega de refeições ou aplicações de partilha de boleias (23% e 11%), gaming profissional (23% e 8%), trabalho em retalho ou restauração (21% e 8%) e treino desportivo (16% e 10%).

Enquanto a razão principal para assumirem um segundo trabalho é a procura de uma fonte de rendimento adicional (47% da Geração Z e 46% dos Millennials), um número elevado de inquiridos revela ter aceitado um segundo trabalho para desenvolver capacidades e relações importantes (26% da Geração Z e 13% dos Millennials portugueses) e para transformar um dos seus hobbies numa atividade profissional (23% da Geração Z e 18% dos Millennials portugueses).

Níveis de stress, ansiedade e burnout continuam altos

Os níveis de stress e burnout ou esgotamento continuam altos entre a Geração Z e os Millennials, com cerca de 46% da Geração Z e 39% dos Millennials, em termos globais, a afirmarem sentir-se stressados durante grande parte do tempo ou mesmo todo o tempo, e em Portugal os números aumentam ligeiramente: 49% para a Geração Z e 43% para os Millennials.

Para os portugueses, entre as preocupações que contribuem para esta sensação estão a saúde mental (53% e 33%), o futuro financeiro a longo prazo (52 e 48%), a saúde e bem-estar da sua família (52% e 46%) e as finanças do dia-a-dia (48% e 40%). Em Portugal,um número elevado de jovens – 46% da Geração Z e 39% dos Millennials – afirma sentir-se muito stressado e em esgotamento devido à intensidade das suas obrigações profissionais, valores ligeiramente mais baixos do que os 52% da Geração Z e 49% dos Millennials que afirmam sentir-se em esgotamento a nível global. Em ambos os casos, os valores representam uma subida desde o ano passado.

Aspetos financeiros impedem jovens de priorizar a sustentabilidade

Um total de 63% da Geração Z e 55% dos Millennials portugueses referiram ter-se sentido ansiosos no mês anterior por causa do ambiente. Apesar das preocupações financeiras, mais de metade estão dispostos a tomar ações para proteger o ambiente e serem mais sustentáveis (55% da Geração Z e 59% dos Millennials portugueses). Por exemplo, 41% da Geração Z e 44% dos Millennials portugueses afirmam evitar comprar fast fashion por razões ambientais, e 31% da Geração Z e 29% dos Millennials fazem pesquisas sobre as empresas e marcas antes de adquirirem os seus produtos ou serviços para saber as suas medidas em termos de sustentabilidade.

Enquanto seis em cada dez inquiridos a nível global (59% da Geração Z e 60% dos Millennials) estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis, mais de metade afirma que fazê-lo se tornará impossível se a situação económica não melhorar.

Para Diogo Santos, Partner da Deloitte, “o estudo identifica as principais preocupações destas gerações, como sejam o custo de vida, o desemprego e as alterações climáticas, e clarifica as expetativas que têm relativamente à vida profissional, nomeadamente o equilíbrio entre as esferas pessoal e profissional, a saúde mental e o contributo das organizações para a sustentabilidade. Estas conclusões constituem importantes ingredientes para as empresas configurarem novas estratégias de atração e retenção de talento, adaptando-se assim às especificidades destas novas gerações que representarão a maioria da força de trabalho já em 2025”.