IV Smart and Green Tourism: “A nova agenda de sustentabilidade é a grande oportunidade para o turismo do futuro”
A sustentabilidade e o turismo foram, uma vez mais, o mote para a Conferência Smart and Green Tourism, organizada pela Ambitur e Ambiente Magazine, em parceria com a Fundação AIP.
Nesta 4ª edição da iniciativa, Leonor Picão, diretora coordenadora da Valorização da Oferta do Turismo de Portugal, fez uma apresentação inteiramente dedicada à agenda implementada nos últimos anos, e projetada para o futuro, sobre Sustentabilidade no Turismo, afirmando que “estamos neste momento a trabalhar na nova agenda do Governo para a sustentabilidade, que será apresentada em altura oportuna”. A responsável afirmou que “a sustentabilidade tem sido, nos últimos anos, um foco da nossa atividade, não só do Turismo de Portugal, mas de toda a cadeia de valor de Portugal, para conseguirmos alavancar um turismo cada vez mais sustentável e uma atividade cada vez mais atrativa e competitiva, responsável do ponto de vista ambiental, social e económico”.
Leonor Picão não tem dúvidas de que “o planeamento é a grande arma da sustentabilidade”, acreditando que é fundamental as empresas estarem preparadas “em vez de resolvermos um problema depois de a crise já estar instalada e ter de correr atrás do prejuízo”.
“tínhamos a grande ambição de tornar Portugal competitivo do ponto de vista da sustentabilidade”, reconhecendo que cada vez mais a procura tem essa preocupação e que também é uma oportunidade de negócio para as empresas
Voltando no tempo, ao primeiro plano sobre sustentabilidade lançado em plena pandemia, numa altura em que o setor foi obrigado a parar e pensar, a oradora confirma que esta foi “uma oportunidade para direcionarmos a forma como queríamos que o turismo crescesse”. E lembra que “tínhamos a grande ambição de tornar Portugal competitivo do ponto de vista da sustentabilidade”, reconhecendo que cada vez mais a procura tem essa preocupação e que também é uma oportunidade de negócio para as empresas.
Assim, entre os vários objetivos de sustentabilidade existentes neste plano, Leonor Picão começa por destacar o aumento da procura turística ao longo de todo o ano, quebrando os desafios da sazonalidade, crescendo a um ritmo mais acelerado em valor do que em quantidade, aumentando a atividade por todo o país, melhorando a retenção de talento e qualificação dos profissionais do setor e incrementando as preocupações ambientais, como os níveis de eficiência energética, a gestão hídrica eficiente, a promoção da gestão dos resíduos e a economia circular, em toda a atividade. “Acreditámos que esta era a forma como podíamos ajudar o setor a crescer de uma forma responsável e ética para com o planeta e as pessoas”, frisa a responsável do Turismo de Portugal.
Foram mais de 119 ações a implementar para ajudar a alavancar todos estes objetivos. Entre alguns exemplos de capacitação do setor estão alguns guias de boas práticas disponíveis gratuitamente, quer sobre a economia circular, a construção sustentável ou a eficiência hídrica, entre outros temas.
Por outro lado, recorda Leonor Picão, foram definidos requisitos de sustentabilidade para os instrumentos de gestão territorial, e foi feita a revisão da legislação dos empreendimentos turísticos, tornando a legislação mais exigente do ponto de vista da eficiência ambiental e do desempenho social das empresas.
O setor do turismo sabe hoje que é um setor vulnerável e que tem de estar mais capacitado e mais preparado”
E foram reforçados os requisitos de sustentabilidade nos instrumentos financeiros. A oradora lembra a criação de um programa de capacitação para a sustentabilidade e a criação de ferramentas e programas de apoio à incorporação de práticas mais sustentáveis no modelo de negócio. É o caso do projeto Clean & Safe, nascido na pandemia e cuja adesão foi significativa e que, depois da pandemia, se tornou um gestor de crises, com uma série de ferramentas para ajudar as empresas em situação de crise a serem mais resilientes. “O setor do turismo sabe hoje que é um setor vulnerável e que tem de estar mais capacitado e mais preparado”, aponta Leonor Picão.
A responsável garante que destas 119 ações a taxa de execução foi “muito significativa, dando-nos a satisfação de continuar a trabalhar com o turismo para o futuro em termos de sustentabilidade”. E é com isso que “continuamos a ter o foco para podermos trabalhar, no futuro, para a nova agenda de sustentabilidade que, mais do que um desafio, acreditamos hoje que é a grande oportunidade para o turismo do futuro”.
“continuamos a ter o foco para podermos trabalhar, no futuro, para a nova agenda de sustentabilidade que, mais do que um desafio, acreditamos hoje que é a grande oportunidade para o turismo do futuro”
E para o futuro, o foco passa também pelo envolvimento das comunidades locais, até porque a nova estratégia tem hoje desafios novos, como a perceção positiva do turismo por quem vive no território.
Claro que, sublinha Leonor Picão, não podemos esquecer os desafios ambientais, pois há metas mundiais a cumprir que começam a ser cada vez mais difíceis de atingir se não formos mais ambiciosos. “Temos que estar mais preparados para estas questões se queremos ter uma atividade turística sustentável a longo prazo”, diz.
A responsável do Turismo de Portugal fala então de dois grandes mecanismos: a regulamentação e o financiamento, indicando que “também queremos atuar na mudança de comportamentos porque acreditamos que, no dia em que algo deixar de ser obrigatório através da legislação ou do financiamento, se não houver mudança comportamental, é sinal que não estamos preparados para enfrentar essas mudanças”. Por isso defende uma consciência ambiental e responsabilidade social cada vez mais relevantes, bem como modelos mais sustentáveis no uso de recursos, uma mobilidade mais amiga do ambiente e responsável, “para que o setor do turismo seja um exemplo”.
“também queremos atuar na mudança de comportamentos porque acreditamos que, no dia em que algo deixar de ser obrigatório através da legislação ou do financiamento, se não houver mudança comportamental, é sinal que não estamos preparados para enfrentar essas mudanças”
A responsável não tem dúvidas de que “é para isso que trabalhamos todos os dias, de modo a capacitar os nossos profissionais com essa responsabilidade, quase competências verdes, porque acreditamos que através destas ações que garantimos uma oferta turística mais autêntica, mais eficiente do ponto de vista ambiental e que trará melhor qualidade de vida a quem vive no território”.
Por Inês Gromicho. Fotos de Raquel Wise