Hotelaria no Feminino… Francelina Amaral
A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. A conversa desta semana leva-nos ao InterContinental Cascais-Estoril onde encontramos Francelina Amaral, general manager da unidade há três anos. Para a profissional, tem havido uma evolução no que se refere à igualdade de oportunidades nesta indústria e sublinha que são cada vez mais as mulheres que são reconhecidas pela sua competência.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Ser mulher na hotelaria tem os seus desafios, como em tantas outras áreas, mas sinto que, nos últimos anos, houve um progresso notável em termos de igualdade e oportunidades. A minha experiência reflete esta evolução, desde o meu início no setor, vejo um progresso claro, com mais mulheres a serem reconhecidas pela sua competência e a ocupar posições estratégicas. Esse movimento tem ajudado a enriquecer a hotelaria, trazendo perspetivas diversas e fortalecendo o setor como um todo.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Iniciei a minha carreira no setor hoteleiro em Londres, no icónico Langham Hilton, uma experiência que marcou profundamente a minha trajetória profissional. Trabalhar num ambiente de luxo e excelência como o Langham incutiu em mim um rigor e um apreço pelo detalhe que ainda hoje são pilares da minha abordagem. Esse início ensinou-me a importância de uma atenção cuidadosa e personalizada a cada hóspede, a cada detalhe, algo que considero fundamental para oferecer uma experiência verdadeiramente exclusiva.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
A hotelaria sempre me fascinou pela capacidade de criar experiências inesquecíveis e de acolher pessoas de diferentes culturas. Sempre adorei receber pessoas, o espírito de organizar e proporcionar momentos únicos aos hóspedes e clientes do hotel, e ainda às nossas equipas, é o que mais me motiva até hoje.
Qual a sua função no hotel em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Sou diretora geral do InterContinental Cascais – Estoril há três anos e tenho o privilégio de fazer parte da família IHG há vários anos. A minha função envolve a gestão diária de uma equipa dedicada, garantindo que cada hóspede vive uma experiência de excelência enquanto implemento estratégias de crescimento e inovação para o hotel, alinhadas com os objetivos traçados. Na hotelaria, nenhum dia é igual ao outro, mas alguns momentos são fundamentais para o nosso sucesso: a reunião matinal com a equipa sénior, onde analisamos o dia anterior e planeamos o próximo; o tour pelos departamentos e o acompanhamento de serviços como o de pequeno-almoço, onde observo o bem-estar dos nossos hóspedes e troco experiências e histórias com eles. Há dias em que temos eventos a decorrer, e queremos garantir que tudo está a postos. Depois, há a parte estratégica, onde trabalho no escritório, focando-me em ações e decisões que asseguram o alto padrão e crescimento contínuo do hotel. São normalmente dias bem preenchidos.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Embora o setor tenha evoluído muito, é inegável que as mulheres ainda enfrentam desafios e, por vezes, obstáculos no crescimento profissional. Contudo, acredito que hoje existe uma maior consciencialização e esforços concretos para ultrapassar essas barreiras e proporcionar igualdade de oportunidades. Pessoalmente, sempre trabalhei o bastante para que essas dificuldades se transformassem em oportunidades e bafejada por alguma sorte, assim tem sido.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica-nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Embora vejamos cada vez mais mulheres em cargos de chefia, especialmente em operações e gestão, ainda existe algum desequilíbrio, especialmente em posições executivas e em algumas áreas específicas. Parte deste cenário reflete questões históricas e culturais, mas tenho esperança de que o setor continue a caminhar na direção certa.
No seu hotel/grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
Na nossa cadeia, IHG Hotels & Resorts, existe uma preocupação muito vincada pela igualdade de oportunidades, e no nosso hotel, existe uma boa representação de ambos os géneros, é aliás com imensa alegria e sentido de compromisso que falo de um empate técnico entre ambos géneros.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
Sinto-me bastante confortável a trabalhar em equipas mistas, pois acredito que a diversidade traz diferentes perspetivas e, consequentemente, melhores resultados. Ao longo da minha carreira já tive a oportunidade de ter como meu braço direito, homens e também mulheres, e é de facto curioso como nos podemos complementar.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Conciliar a vida pessoal e profissional é um desafio constante, especialmente na hotelaria, não nos podemos esquecer que somos parte de uma indústria que trabalha os 365 dias do ano. Mas acredito que, com uma boa organização, apoio da equipa, e tendo a tecnologia ao nosso dispor, é possível alcançar um equilíbrio saudável.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
Acredito que a visão feminina traz uma abordagem estratégica e cuidadosa ao setor hoteleiro, tanto a nível humano quanto financeiro. As mulheres na liderança tendem a ter uma forte capacidade de empatia, o que permite criar experiências mais personalizadas e especiais para os hóspedes e clientes. Além disso, o enfoque colaborativo e inclusivo, inspiram as equipas e impulsionam a inovação. A atenção aos detalhes, comum na liderança feminina, é também um fator diferenciador que contribui para uma gestão equilibrada entre eficiência e qualidade.
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