Hotelaria no Feminino com… Teresa Gonçalves
A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Trazemos-lhe assim mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. Hoje a nossa entrevistada é Teresa Gonçalves, general manager do The Vine Hotel, no Funchal. A responsável não tem dúvidas de que este setor tem sido um dos que mais mulheres emprega a nível global e aquele onde as mulheres têm atingido o topo das suas carreiras.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Não considero que seja difícil, desde que a pessoa tenha naturalmente a formação e as competências adequadas à função a que se candidata. Existe até, fruto do crescimento que o Turismo tem tido nos últimos anos, uma procura crescente por profissionais neste setor. Além disso, a Hotelaria é um dos setores da economia que emprega mais mulheres e onde as mulheres têm vindo a atingir o topo da carreira, com cada vez mais frequência.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Em 1994, como assistente no Departamento de Vendas do The Cliff Bay, naquele que depois veio a ser um grupo hoteleiro de referência a nível nacional e internacional (PortoBay). Fiz parte da equipa que esteve na génese desse projeto, onde trabalhei nove anos já como a diretora de vendas do grupo. Passei depois pelo Grupo Pestana na Madeira, como diretora de vendas da área em 2003, onde exerci funções até 2010, já como diretora de vendas dos hotéis do grupo a nível nacional.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
Sobretudo o facto de ser uma área em forte crescimento e também onde se podia fazer um pouco de tudo. Não existem muitas profissões que tenham tanta abrangência, tanta variedade de funções e também tanta evolução e possibilidade de inovar. O setor estava em ebulição nos anos 90 e continuou a crescer e a transformar-se com a integração de tecnologia e novos formatos de comunicação e comercialização.
Qual a sua função no hotel em que trabalha? Como é o seu dia a dia?
Sou diretora geral do hotel The Vine, no Funchal, desde 2010. O meu dia a dia é muito dinâmico e diria que, mesmo após 14 anos, há sempre algo novo a aprender ou a ensinar todos os dias e isso mantém-me interessada e motivada. Entretanto, já abrimos um novo projeto em 2019, o Hotel Caju, que também dirijo. Existe dinâmica e evolução e isso é algo que sempre me motivou pessoalmente.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Não, nunca me senti discriminada por ser mulher. Acho que ser mulher ou ser homem, apresenta sempre vantagens e desvantagens em qualquer contexto, mas esses desafios não devem ser olhados apenas duma perspetiva de género. São desafios que se colocam a pessoas e que cada uma dessas pessoas terá de saber ultrapassar através das suas competências e capacidades.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
De acordo com as últimas estatísticas publicadas pelo CIG – Comissão para a Igualdade de Género (2021), o setor da hotelaria, restauração e similares emprega em Portugal 56,2% de mulheres, é um dos setores mais equilibrados. Relativamente à questão salarial, a mesma entidade refere que existe um GPG (gender pay gap) de 13,6% a desfavor das mulheres neste setor. Creio que esse “gap” tem a ver com as profissões tipicamente exercidas por mulheres versus as profissões tipicamente exercidas por homens dentro do setor. Num hotel, tradicionalmente, a maioria dos efetivos num hotel estão em secções operacionais como o Housekeeping em que as categorias e os salários são dos mais baixos do setor. Estas secções são compostas na maioria por mulheres (80 a 90%), isso ajudaria a explicar, pelo menos em parte, essa discrepância. Sendo a hotelaria um setor que se encontra regulado por um CCT, as tabelas salariais não apresentam, naturalmente, diferenças de género. Também é preciso ter em conta que algumas mulheres optam por trabalho a tempo parcial, especialmente em secções com laboração mais intermitente, como é o caso da restauração.
No seu hotel quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
As mulheres estão em ligeira maioria, em linha com o que acontece na generalidade do setor. A minha equipa é mista e baseia-se nas valências e competências dos seus elementos.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
Não tenho nenhuma preferência. Vejo sobretudo a pessoa do ponto de vista profissional e de acordo com as suas competências e valências em contexto laboral.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
De forma alguma. Apesar das exigências da minha função, o equilíbrio existe e não é forçado. Sempre considerei que quando sabemos à partida que não podemos conciliar as exigências de uma função com o nosso modelo de vida pessoal e familiar, não devemos procurar exercer essa função. Há que fazer escolhas conscientes e ter noção daquilo que somos capazes ou não de fazer e/ou sacrificar e sobretudo, se esse sacrifício vale a pena e está em sintonia com a nossa filosofia de vida. Viver em constante esforço/stresse não é bom para ninguém. Deve prevalecer o direito à livre escolha, sem imposições de qualquer espécie.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
Não sei se será correto utilizar o termo “visão feminina”, já que isso, para mim, significa alimentar um estereótipo. Julgo ser importante que as mulheres não se “masculinizem” para atingir uma hipotética igualdade, mas antes que exijam serem tratadas com equidade e justiça e terem à partida as mesmas oportunidades que têm os homens, libertas das questões de género ou de quaisquer outras.
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