Hotelaria no Feminino com Sofia Brandão, dos Alma Lusa Hotels
A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. A conversa hoje é com Sofia Brandão, diretora de Operações dos Alma Lusa Hotels, que nos diz que hoje as coisas mudaram e que já há uma nova geração de mulheres líderes que ocupam o seu espaço com toda a naturalidade.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Hoje, sinceramente, não vejo dificuldade em ser mulher na hotelaria. Já fizemos um caminho enorme — e isso merece ser celebrado. Quando comecei, era raro ver mulheres em cargos de topo, e muitas vezes sentia que tinha de fazer o dobro para provar o mesmo. Mas as coisas mudaram. Há uma nova geração de líderes mulheres a ocupar o seu espaço com naturalidade, competência e visão. A igualdade plena ainda pode não ser total, mas estamos muito perto — e isso enche-me de esperança e orgulho.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Desde a faculdade que percebi que uma carreira em bancos ou consultoras não me ia preencher. Era um caminho seguro, sim, mas faltava-lhe algo essencial para mim: ação, paixão e interação humana. Queria sentir que o meu trabalho fazia a diferença no dia a dia das pessoas. A minha entrada no setor foi com a abertura do Sheraton Porto, depois de uma experiência marcante na Argentina, e percebi logo que estava onde devia estar. A hotelaria é dinâmica, intensa, emocional — e é isso que me move.
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
Sempre fui movida por aquilo que envolve pessoas, emoções e energia. A hotelaria tem essa combinação única: é um setor onde todos os dias são diferentes, onde temos a oportunidade de criar momentos memoráveis para quem nos visita — e isso, para mim, é profundamente gratificante. Mas há algo que me motiva ainda mais: a possibilidade de fazer crescer talento. Ver alguém entrar na equipa cheio de vontade, aprender, evoluir e conquistar o seu espaço é das experiências mais recompensadoras que se pode ter. Saber que, de alguma forma, contribuímos para o crescimento de alguém é um enorme privilégio. A hotelaria permite-nos isso — ser impacto na vida dos outros, tanto nos hóspedes como nas equipas. E isso é raro.
Qual a sua função/cargo no grupo hoteleiro em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Sou diretora de operações do grupo AlmaLusa Hotels, desde o nascimento da marca em 2014. O meu dia nunca é igual ao outro — e essa é a magia. Posso estar a rever uma estratégia de marketing de manhã, a acompanhar uma equipa de housekeeping à tarde e, ao final do dia, a receber hóspedes. Liderar na hotelaria é estar presente, é dar o exemplo, é manter a energia e a paixão vivas em cada detalhe e em cada pessoa!
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Sim, senti — e não tenho problema em dizê-lo. Houve momentos em que tive de lutar por coisas simples, que os meus colegas homens conseguiam com muito menos resistência. Mas essas dificuldades ensinaram-me a ser mais forte, mais focada e mais determinada. Ainda existe desigualdade, mas cabe-nos a nós continuar a abrir portas para as que vêm a seguir.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
Há mais mulheres do que homens a trabalhar na base da operação, mas à medida que subimos na hierarquia, a balança inverte-se. Isso reflete-se nos cargos e, infelizmente, também nos salários. Acredito que parte disso vem de uma herança cultural que ainda associa liderança a masculinidade. Mas isso está a mudar — e temos de continuar a mostrar que liderança também tem empatia, sensibilidade e visão, qualidades que muitas mulheres têm de forma natural.
No seu hotel/grupo hoteleiro quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
No AlmaLusa temos uma presença muito forte de mulheres, não só nas equipas como também em posições de liderança. Desde o início, apostámos no talento feminino porque acreditamos que ele faz a diferença — e os resultados falam por si. A diversidade enriquece qualquer organização.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
Gosto de equipas mistas. O segredo está no equilíbrio — cada pessoa traz algo único. Mas mais do que o género, o que me importa é a atitude, a vontade de crescer e a paixão por servir. Com isso, tudo é possível.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
Não é fácil. A hotelaria exige muito — é uma entrega constante. E, sim, sinto que, enquanto mulheres, essa pressão é maior. Espera-se que sejamos profissionais impecáveis, mães presentes, companheiras atentas… Mas com organização, apoio e amor pelo que fazemos, conseguimos criar esse equilíbrio possível. É uma dança diária, mas vale a pena.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
A visão feminina traz, sem dúvida, sensibilidade, atenção ao detalhe e uma forma única de liderar com empatia e firmeza. Temos uma capacidade natural de cuidar e de conectar com as pessoas, e numa indústria tão centrada no ser humano como a hotelaria, isso é um verdadeiro superpoder. Acreditamos nas pessoas, damos-lhes espaço para crescer, ouvimos com atenção e, ao fazer isso, conseguimos criar equipas mais humanas, mais felizes, e experiências mais autênticas para os nossos hóspedes, sem perder a excelência e o profissionalismo.
No entanto, mesmo com todas essas qualidades, o grande desafio permanece: entregar o nosso melhor sem nos desgastarmos. Delegar de forma eficaz, sem perder o controle ou a paixão por aquilo que fazemos, é algo que, em certo grau, todos os profissionais enfrentam — independentemente do género. Acredito que precisamos de aplicar mais a máxima “se estou cansado, descanso, mas não desisto!” para garantir que não vemos tantos talentos excecionais a abandonar o setor. Cuidar de nós mesmos é tão importante quanto cuidar dos outros, e esse equilíbrio é crucial para mantermos a excelência na hotelaria.
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