Hotelaria no Feminino com…Ana Portugal
A Ambitur.pt tem estado ao lado do setor da Hotelaria em Portugal, seguindo tendências, anunciando novidades, acompanhando mudanças. Hoje trazemos-lhe mais uma rubrica, desta feita procurando a visão das mulheres que escolheram o mundo dos hotéis para o seu percurso profissional. Como é ser mulher nesta indústria? É o que procuramos saber com “Hotelaria no Feminino”. A conversa esta semana é com Ana Portugal, hotel manager no Hotel D. Pedro Lisboa. A profissional acredita que hoje em dia o equilíbrio entre mulheres e homens a trabalhar nesta indústria já é visível. Não nega que uma presença feminina pode ter vantagens, até porque “a mulher está sempre preparada para superar o desconhecido e ultrapassar o imprevisto, com um espírito de improviso que lhe é inerente”.
É difícil ser mulher na hotelaria em Portugal nos dias de hoje? Observa alguma evolução desde o seu primeiro emprego no setor?
Historicamente, as mulheres na hotelaria enfrentam mais barreiras, como desigualdade salarial, menos oportunidades para cargos de liderança e dificuldades em equilibrar a vida pessoal e profissional, devido aos horários irregulares que a indústria muitas vezes exige. No entanto, o meu caso foi um pouco diferente. Trabalho no setor desde que acabei o meu curso de Gestão Hoteleira e, até à data, a minha motivação continua a ser a mesma.
Servir o cliente e proporcionar as melhores experiências e satisfação atendendo sempre ao detalhe e inovação.
A Hospitalidade é um desafio diário e em constante mutação, logo temos de estar sempre atentos e tentar ir além das nossas capacidades visto trabalharmos com pessoas e para pessoas todas diferentes e com expectativas diferentes.
Quando começou a trabalhar no setor hoteleiro e onde?
Comecei a trabalhar no Restaurante Mónaco como Guest Relations em 1994, anteriormente já tinha feito alguns estágios na área do Alojamento ( Hotel Praiagolfe Espinho).
O que a motivou a trabalhar na hotelaria?
Desde muito nova que adorava fazer festas, receber pessoas e tinha uma preocupação constante que se sentissem bem. Adorava trabalhar com pessoas e para pessoas, partilhando as suas experiências e gostos,
A minha maior motivação sempre foi a arte de bem receber, os hotéis eram lugares que nos faziam sonhar, eram locais, quase inacessíveis, cheios de glamour e que não estavam abertos ao público em geral. Os hotéis e as viagens eram um sonho e fazer parte deles um sonho maior.
Trabalhar no Restaurante Mónaco, onde recebíamos figuras públicas de grande prestígio, desde Presidentes da República Portuguesa, ao Corpo Diplomático e às mais prestigiadas entidades da nossa sociedade e de âmbito Internacional, fazia com que considerasse a Hospitalidade um desafio que todos sonhavam. A chegada de uma destas individualidades acarretava uma preparação muito cuidada e o entusiasmo de toda a equipa e, para mim, era um orgulho tão nova poder receber e contactar com pessoas tão ilustres, organizar um casamento era outro desafio, tudo era vivido com muita intensidade e dedicação e com o máximo rigor.
Qual a sua função/cargo no hotel em que trabalha? Desde quando ocupa esse cargo? E como é o seu dia a dia?
Abracei desde setembro de 2023 o projeto de direção de Hotel no D. Pedro Lisboa. Devido à dimensão e atividade da unidade, o meu dia-a-dia é sempre desafiante, atendendo às necessidades dos nossos clientes de segmentos muito distintos e tendo sempre atenção ao detalhe exigido e, em simultâneo, coordenando e orientando as equipas para irmos ao encontro da satisfação dos clientes que nos elegem e dos resultados estipulados, quer a nível de orçamento quer a nível de qualidade de serviço.
Alguma vez sentiu, ao longo da sua carreira, mais dificuldade em aceder a determinado cargo/função por ser mulher? Considera que ser mulher é um fator que dificulta o crescimento profissional?
Nunca senti qualquer dificuldade em ascender ao meu cargo. Normalmente todos os desafios foram lançados por colegas do sexo masculino e sempre foram um suporte na minha evolução de carreira. Na minha opinião, a minha progressão e respeito pelos colegas sempre se deveu ao trabalho e atitude que apresentei no meu desempenho, o foco está na competência e no mérito, independentemente do género. É importante reconhecer o papel que o trabalho árduo e a atitude desempenham na progressão da carreira.
Na sua opinião, há um equilíbrio ou desequilíbrio no número de mulheres versus homens que trabalham no setor? De que forma isso se verifica – nos cargos exercidos, nos salários oferecidos? E porque razão considera que é assim?
O setor da hotelaria tem vindo a evoluir de forma positiva no que diz respeito ao equilíbrio de género. A desigualdade de género tem-se tornado menos expressiva, e vemos cada vez mais mulheres e homens a desempenharem as mesmas funções em várias áreas do setor. No entanto, ainda existem algumas disparidades, especialmente em termos de cargos e setores específicos. Anteriormente , certas funções na hotelaria eram fortemente associadas a um género específico. Por exemplo, áreas como housekeeping (limpeza e arrumação) são tradicionalmente ocupadas por mulheres, enquanto os serviços técnicos, como manutenção e engenharia, ainda são dominados por homens. Contudo, essa divisão está a diminuir, e já se nota a presença crescente de mulheres em setores como a gastronomia, onde chefes de cozinha começam a ser mais comuns e inclusive há países onde o housekeeping é maioritariamente desempenhado por homens.
Em relação aos salários, apesar de já existirem algumas melhorias, ainda existem diferenças salariais entre homens e mulheres, em alguns casos. Estas diferenças podem ser atribuídas a fatores como o tipo de funções desempenhadas e a sub-representação das mulheres em cargos de liderança, que tendem a ser melhor remunerados. No entanto, à medida que mais mulheres ascendem a esses cargos, esta diferença também começa a diminuir.
Durante muito tempo, certas funções foram vistas como “mais adequadas” para homens ou mulheres, e essa perceção levou à segregação no mercado de trabalho. Hoje, com o aumento do acesso à educação e à formação, essa visão está a mudar. As mulheres têm mais oportunidades de se qualificar para posições tradicionalmente masculinas e vice-versa.
No seu hotel quem está em maioria – mulheres ou homens? E na equipa onde trabalha?
No Hotel Dom Pedro Lisboa, o número de colaboradores homens e mulheres é equivalente.
No seu caso pessoal, gosta mais de trabalhar com equipas de mulheres, só de homens ou mistas?
No meu caso gosto muito de trabalhar com equipas mistas, são mais equilibradas e completam-se. Na minha opinião, o género não é uma condição na hospitalidade, a diferença é feita pela atitude e pela motivação de cada um na satisfação do cliente. Os colaboradores com quem trabalho normalmente são muito focados em satisfazer o cliente .
Afinal a nossa missão é essa mesmo: “Fazer pessoas Felizes”.
É fácil conjugar a sua vida pessoal/familiar com a vida profissional? Sente uma maior pressão em atingir este equilíbrio pelo facto de ser mulher?
No meu caso sempre foi fácil equilibrar a vida pessoal com a profissional. Considero que quando temos filhos pequenos poderá haver alguns constrangimentos de horário mas, como sempre tive grande apoio familiar, nunca foi um constrangimento. Considero que quem se dedica à Hospitalidade tem de ser muito resiliente e gostar muito desta atividade, pois há momento que são difíceis mas ao mesmo tempo gratificantes, como exemplo: Natal, Passagem de Ano, Páscoa e mesmo Férias enquanto os clientes desfrutam nós trabalhamos para a sua satisfação.
O que pensa que a visão feminina pode trazer de diferenciador e de positivo ao setor hoteleiro?
Na minha opinião as mulheres podem ter algum papel diferenciador em vários pontos.
No atendimento ao cliente podem apresentar uma abordagem mais natural, focada na empatia e na comunicação, proporcionando experiências mais personalizadas e acolhedoras aos hóspedes, devido à sua sensibilidade feminina; assim como a inclusão das mulheres em posições de liderança promove a diversidade de perspetivas, o que pode adicionar alguma criatividade e pode ajudar a satisfazer as necessidades dos clientes e a atenção aos detalhes.
No que refere à sustentabilidade e responsabilidade social, poderá haver uma maior preocupação com as questões sociais e ambientais desenvolvendo estratégias mais sustentáveis para atingir melhores objetivos e criar vontade nos que a rodeiam e uma maior sensibilização.
A visão feminina pode também desenvolver novas ideias e abordagens para os serviços e produtos oferecidos, criando inovações que vão ao encontro das expectativas e surpresa dos hóspedes, podendo enriquecer algumas estratégias de Marketing com vista a tornar campanhas mais inclusivas e atraentes a um público mais diversificado, o que pode ajudar a desenvolver campanhas que abranjam mais segmentos de clientes com maior sensibilidade.
Haverá uma maior sensibilidade familiar, a mulher tem uma maior compreensão para com as questões familiares quer dos seus colaboradores quer dos seus clientes, projetando programas que satisfaçam as famílias e as suas crianças, com a sua visão feminina.
Ao estar em contacto com um maior número de responsabilidades e habilidades diárias, e para superar as mais adversas situações, a mulher está sempre preparada para superar o desconhecido e ultrapassar o imprevisto, com um espírito de improviso que lhe é inerente.
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