Grande Entrevista: “Após a próxima aquisição, o futuro passará pela internacionalização”

No ano em que a Ferpinta celebra o seu 50º aniversário, Ambitur entrevistou Gonçalo Teixeira, administrador da Vila Baleira Hotels & Resorts, uma das 26 empresas que integram este grupo português que vai já na sua terceira geração. Continuar a crescer no turismo é um dos objetivos, um crescimento que passará a curto prazo pela região da Madeira, onde a Vila Baleira passará a ser um dos maiores players com mais camas no destino. No futuro, a aposta será crescer por via da internacionalização. Leia aqui a 1ª parte desta Grande Entrevista. 

Como se integra o turismo no universo da Ferpinta?
A empresa mãe do grupo que é a Ferpinta comemora este ano o 50º aniversário. Na esfera global do grupo somos 26 empresas. A Ferpinta, que opera no setor do aço, é a empresa que transmite o ADN do grupo. A estrutura acionista, desde a criação, é 100% familiar. O fundador foi o meu avô, que é o presidente do Conselho de Administração, estamos atualmente na terceira geração. Exportamos para cerca de 50/60 países, temos investimentos diretos (fábricas) no mercado ibérico (Portugal e Espanha), Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Costa do Marfim e Congo. Não individualizamos muito Portugal e Espanha, a escala de Portugal é pequena em muitos setores, no caso do aço, que vive muito de escala, o indicador do mercado ibérico é muito importante. O Grupo tem 1500 colaboradores, com um volume de negócios a rondar os 500 milhões de euros.

Em 2016, iniciámos e colocámos em prática um processo de reorganização, planeado há bastante tempo pela atual administração (avô, pai e três tios) da Ferpinta, que visou a entrada da terceira geração familiar, na qual me insiro, de forma a potencializar o crescimento das empresas. No fundo esta reorganização de todo o grupo, com a exceção da empresa mãe, consistiu em alocar todas as outras empresas/ áreas de negócio aos quatro ramos familiares, dos quatro administradores, permitindo que estas atingissem ou superassem os objetivos propostos.

Ao longo destes 50 anos apostámos na diversificação de negócios, tendo investido, entre outros, na área da agricultura com a empresa Herculano, de maquinaria agrícola, e na de turismo, que são as empresas que ficaram sob a égide do meu ramo familiar (pai e irmão, Ricardo Teixeira).

Eu sou da área da gestão, o meu irmão da engenharia, isso cria uma feliz complementaridade de funções que conseguimos atingir.

Qual o motivo do grupo ter investido no turismo, qual o histórico deste trajeto?
O turismo no grupo inicia-se quase que por acaso. Ainda recentemente o meu avô fez referência a esse episódio. Tudo começa com uma deslocação do meu avô à Madeira, há cerca de 35/ 40 anos, porque temos lá uma sucursal da Ferpinta, uma distribuidora que é a FerroFunchal. Nessa ocasião ele encontrava-se com uma dor de costas e o próprio Alberto João Jardim o aconselhou a ir a Porto Santo tratar-se nas suas areias. Há outros pormenores na história, pois se Porto Santo ainda hoje sofre de dupla insularidade, à data era de muito mais difícil acesso. O resultado do tratamento nas areias de Porto Santo foi tão positivo, que o meu avô ficou com uma paixão pela ilha e decidiu começar a fazer férias ali anualmente e a investir no destino. Há 22 anos investiu na aquisição do Hotel Vila Baleira. Com o objetivo da diversificação do negócio nasce então o Hotel Vila Baleira Thalasso Porto Santo, com uma forte componente associada à saúde. Até agora esta continua a ser a maior talassoterapia, em área, da Europa. Temos alguns projetos de remodelação e readaptação do conceito. Mas este continua a ser um produto que independentemente da data, e para a realidade da ilha, é muito interessante e queremos potenciar a nova vaga de turismo de saúde e bem-estar.

[blockquote style=”1″]Está na nossa estratégia conseguirmos de uma forma consolidada continuar um caminho de crescimento no setor do turismo[/blockquote]

Como vê hoje, o grupo, esta área de negócio?
O turismo no grupo tem uma fatia pequena, tendo em conta a escala do mesmo. Está na nossa estratégia conseguirmos de uma forma consolidada continuar um caminho de crescimento no setor do turismo. Queremos e vamos continuar a acompanhar o historial que o grupo tem tido em conta, sempre uma ambição racional, sabendo que temos que fazer as melhores escolhas com investimentos eficientes para conseguirmos obter as metas e objetivos que temos traçados. O foco é esse.

Está prevista alguma intervenção na unidade de Porto Santo?
A nível nacional e dos mercados que trabalhamos mais diretamente no exterior, como Dinamarca, Itália e Suécia, já temos uma marca consistente e bem posicionada. Modernizámo-la recentemente, para acompanhar o crescimento, com uma adaptação de logotipo e também a marca mãe Vila Baleira Hotels and Resorts. A designação das unidades hoteleiras seguem então este chapéu: Vila Baleira Resort e Vila Baleira Funchal.

Na unidade de Porto Santo estamos a reativar o projeto de remodelação de conceito da talassoterapia, depois do adiamento que tivemos devido à pandemia. No fundo o que procuramos no conceito é uma modernização e adaptação para o turismo de saúde e bem-estar. Uma condição que para nós é essencial é uma vertente médica muito presente no conceito 360 de saúde. Ou seja, pretendemos ter dentro das nossas instalações da talassoterapia 27 suítes que permitam que o cliente tenha uma experiência imersiva bem-estar, mas acompanhado sempre da vertente médica/científica que dê a garantia daquilo que estamos a fazer e a oferecer aos clientes. Neste conceito de talassoterapia vamos procurar potencializar os produtos naturais que temos em Porto Santo – as areias, argila e a água do mar – e bens naturais que a ilha nos oferece e criar esta ligação com a vertente científica que dá garantias e um suporte importante para um cliente cada vez mais informado. Em Porto Santo, em paralelo com esta talassoterapia, que vai ser o conceito principal nos próximos 15 anos não só do Vila Baleira, mas da região da Madeira, seja com o equipamento como com a equipa que vamos ter, iremos efetuar no nosso edifício de apartamentos do Vila Baleira Porto Santo uma remodelação de metade dos apartamentos. A outra metade foi feita há três anos. Vamos também fazer um restaurante extra no edifício principal do hotel. Estes são os principais investimentos no Vila Baleira Porto Santo.

[blockquote style=”1″]Queremos criar uma complementaridade entre Porto Santo e o Funchal/Madeira, porque achamos que são destinos complementares. Temos para oferecer ao mercado um produto único e diferenciador.[/blockquote]

Adquiriram o hotel Lince em 2020, é um produto já à vossa imagem?
Fechámos esse negócio em janeiro de 2020, antes da pandemia. Fizemos a abertura em junho desse ano, com uma ampla remodelação do hotel e uma ampliação de 12 quartos. Desde aí que temos vindo a trabalhar na remodelação do Vila Baleira Funchal, ao qual também fizemos a adaptação da marca, numa estabilização do hotel acima de tudo num produto em que seja possível estabelecermos sinergias, não apenas entre as nossas unidades hoteleiras, mas acima de tudo entre os dois destinos. Queremos criar uma complementaridade entre Porto Santo e o Funchal/Madeira, porque achamos que são destinos complementares. Temos para oferecer ao mercado um produto único e diferenciador. Em termos de instalações o hotel já está como pretendemos, temos agora afinações a nível de serviço. Este foi um projeto que fizemos a contar com as sinergias a nível comercial, mas também em termos de recursos humanos.

Há também um ponto importante neste bolo de investimentos no setor do turismo que é um polo de formação que temos em curso com uma escola de formação na Madeira, que existe desde o ano letivo passado. Este visa que as áreas teóricas e práticas são dadas em contexto do Vila Baleira Porto Santo. Ou seja, criámos um polo de formação dentro da unidade que, o ano passado, contou com 34 alunos e este ano terá três turmas, entre os 65/70 alunos. Este é um dos pontos que coloca desafios para o futuro, este polo de formação está relacionado com isso, visa antecipar a dificuldade de mão-de-obra que existe no setor e ainda mais agravada na região, e ainda mais em Porto Santo. Este polo está muito ligada às áreas de restauração e cozinha. O nosso staff também faz parte do corpo letivo, o qual esteve a ser formado, em tempos de pandemia, para serem formadores.

[blockquote style=”1″]Relativamente a investimentos no setor do turismo estamos sempre ativos e está no horizonte de curto prazo investirmos mais no setor, sem dúvida.[/blockquote]

O vosso objetivo é continuar a crescer na Madeira ou expandirem-se para outras latitudes?
Relativamente a investimentos no setor do turismo estamos sempre ativos e está no horizonte de curto prazo investirmos mais no setor, sem dúvida. Neste curto prazo, está no plano consolidarmos e crescermos, porque há potencial para isso, na região da Madeira. Aí está na agenda a curto prazo haver esse crescimento e, desse modo, passaremos a ser a nível da região, um dos maiores players com mais camas no destino. Estamos num processo de negociação há mais de seis meses, tudo aponta que tenha um final feliz nos próximos dias.

[blockquote style=”1″]Vamos continuar a ser seletivos, procurar muito a nossa identidade a marca e posicionamento.[/blockquote]

Vamos continuar a ser seletivos, procurar muito a nossa identidade a marca e posicionamento. Depois desta próxima aquisição que iremos fazer na região, o futuro a médio prazo não passará por crescer via continente, mas sim pela internacionalização. Tínhamos já iniciado em meados de 2019 alguns contactos, que entretanto foram interrompidos. Nesta ótica de crescer mais, o caminho do grupo no turismo será pela via da internacionalização.

Qual o atual ponto de situação do turismo nacional, tendo em conta o contexto pandémico? Que premissas são essenciais atender para o desenvolvimento num futuro a curto prazo?
Se há setor que ficou mais instável pós-Covid 19 foi o turismo. Tendo isto em conta, os temas e desafios principais passam pela dificuldade em termos da mão-de-obra, não só pela escassez, mas ao nível da qualificação. Este é um tema de que não podemos fugir e que assume um papel importante para a garantia de futuro do setor.

No meu entender, um dos enormes desafios que iremos ter, passa por aportar cada vez mais valor acrescentado aos clientes, num tema mais comercial. O que quero dizer com isto é que faz todo o sentido aos hotéis com muita escala, para serem rentáveis, promover o destino, antes de venderem o hotel. Esta deve ser a bandeira principal dos hotéis. Este é um fator que irá diferenciar o destino. Esta estratégia abrange dar a conhecer as experiências diferentes que se podem fazer no destino, quer as experiências de carácter social, gastronómicas, culturais, entre outras. Este é o caminho que devemos seguir. Do conhecimento que temos a nível comercial, para que os clientes consigam percecionar o destino e consequentemente os hotéis consigam atingir o maior valor acrescentado, que no fundo é isso que pretendem, temos que posicionar o destino sempre uns furos acima do que neste momento estamos a trabalhar. Não podemos restringir apenas a oferta de serviços aqueles que o hotel individualmente oferece, temos antes, em conjunto e em equipa, procurar enriquecer os destinos para que seja muito mais fácil atingir as tendências globais e uma maior notoriedade. Esta visão 360 que temos que ter será um fator chave de sucesso para o futuro do turismo em Portugal. Melhor se conseguirmos criar equipas multidisciplinares com todos os stakeholders intervenientes no turismo, para que trabalhem em conjunto.

Relativamente a um olhar mais pós- pandemia, que esperemos que esteja para breve, temos uma visão clara e inevitável de uma aceleração do mundo tecnológico no setor, que também já vem sendo acompanhada por nós.

[blockquote style=”1″]A fidelização de um cliente é o melhor elogio que ele nos pode dar. Esta é uma vertente que temos que transmitir a toda a equipa e que faz toda a diferença.[/blockquote]

Outro fator muito importante que queremos trabalhar de forma enraizada, porque vai ser um pilar do grupo, é a fidelização. Para mim este é o melhor barómetro que efetivamente determina se o cliente está satisfeito e se estamos ou não a fazer um bom trabalho. A fidelização de um cliente é o melhor elogio que ele nos pode dar. Esta é uma vertente que temos que transmitir a toda a equipa e que faz toda a diferença.

 

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