Fórum Vê Portugal: “Tem havido um desenvolvimento fantástico da oferta, o grande desafio é crescer em valor”

Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, foi um dos oradores do painel “Caminhos para o Futuro do Turismo Interno”, que teve lugar no 9º Fórum de Turismo Interno – Vê Portugal, organizado pela Turismo Centro de Portugal, juntamente com Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP e Adolfo Mesquita Nunes, advogado e ex-secretário de Estado do Turismo.. O orador fez questão de destacar alguns caminhos que considera essenciais para o crescimento dos destinos turísticos nacionais, sobretudo territórios do interior e de baixa densidade. A verdade, diz, é que “tem havido um desenvolvimento fantástico da oferta, o grande desafio agora é crescer em valor”. Ou seja, atrair procura de maior capacidade aquisitiva, explica, o que não significa escolher os turistas que mais gastam pois “nós não escolhemos os turistas, os turistas é que nos escolhem”. Mas sim apostar numa “progressão na oferta”, salientando aqui o papel “excecional” das entidades regionais de turismo no que diz respeito à estruturação do produto. Por outro lado, apontou que esta estruturação do produto deve abandonar cada vez mais a centralidade da unidade de alojamento, no sentido de “enriquecer a estruturação do produto com experiências de turismo ativas”. E também que é importante a personalização pois “não conseguimos cobrar mais se não tornarmos o cliente ainda mais único”. Reconhece que este desafio é “interessante” e que se torna mais facilitado e rentável com a ajuda da tecnologia, mas também confessa que “é difícil pensar em personalização sem o toque humano” pelo que “há uma simbiose que é preciso acertar”.

“O património não é de quem o gere, é de todos nós”, começa por dizer. Pelo que o problema reside na gestão, pois “o turismo não está com certeza de costas voltadas porque a cultura faz parte do turismo e da oferta do turismo interno”.

Relativamente ao facto de o turismo e da cultura poderem estar de “costas voltadas”, uma questão levantada pela moderadora deste painel, a jornalista Sara Tainha, o presidente da APAVT não está de acordo, apontando antes o dedo a um problema de gestão do património. “Quem é da cultura e da gestão do património, considera que o património existe para melhor ficar afastado das pessoas, ou seja, quanto mais afastado, menos prejudicado”, mas o orador não concorda com esta ideia. E defende: “O património não é de quem o gere, é de todos nós”, começa por dizer. Pelo que o problema reside na gestão, pois “o turismo não está com certeza de costas voltadas porque a cultura faz parte do turismo e da oferta do turismo interno”.

“a crise deixou cicatrizes nos balanços, a recuperação é a demonstração de resultados”.

Numa análise ao ano de 2022 e expectativas para este ano, Pedro Costa Ferreira refere que, apesar do “fantástico” comportamento do setor das agências de viagens, e do turismo em geral no ano passado, e de “estarmos em 2023, de uma forma generalizada, melhores do que em 2022”, a verdade é que “continuo preocupado”. A razão é simples: por um lado, a inflação, com o consequente aumento das taxas de juro e a perda de poder de compra. Além disso, lembra, “a crise deixou cicatrizes nos balanços, a recuperação é a demonstração de resultados” pelo que “vamos ter de ter várias demonstrações de resultados com este clima favorável para chegarmos ao balanço de 2019”.

“Há uma diferença entre a dinâmica de recuperação da procura e as dinâmicas do mercado de trabalho”.

Focando na questão dos recursos humanos no setor do turismo, o presidente da APAVT começa por desmistificar a ideia de que as pessoas não querem trabalhar no turismo. “Há uma diferença entre a dinâmica de recuperação da procura e as dinâmicas do mercado de trabalho”, explica, dizendo que os reajustamentos do mercado de trabalho são mais lentos do que as dinâmicas da procura, uma diferença que se acentua ainda mais no setor do turismo, que viveu uma “recuperação absolutamente extraordinária e muito rápida da procura turística”. Mas isso não significa que as pessoas estejam mais afastadas desta indústria, o que acontece é que “há uma maior necessidade de rapidez nesse reajustamento”.

“devíamos começar a analisar é se se recebe mal ou bem” e não a questão do pagamento, pois isso permite “distribuir a responsabilidade pelo empresário pagador e pelo Estado, que fica com uma boa parte”.

Pedro Costa Ferreira reconhece que a questão salarial é um problema mas alerta: “devíamos começar a analisar é se se recebe mal ou bem” e não a questão do pagamento, pois isso permite “distribuir a responsabilidade pelo empresário pagador e pelo Estado, que fica com uma boa parte”. Por isso, o orador não hesita em afirmar que, se pudesse mudar alguma coisa em Portugal, do ponto de vista fiscal, seria a tributação sobre o trabalho. Em primeiro lugar, porque isso estimularia a procura numa altura em que, com a subida das taxas de juro, temos problemas desse lado, repondo o poder de compra das pessoas. Por outro lado, permitiria que quando as empresas pagassem melhor isso significava que os colaboradores recebiam, de facto, melhor.

“vivemos numa economia aberta e quando a procura se altera de uma forma rápida, temos que ajustar com mão de obra de outros países”

Contudo, o presidente da APAVT acredita que mesmo resolvendo estas questões, sem políticas de imigração “não chegamos lá”. Isto porque, refere, “vivemos numa economia aberta e quando a procura se altera de uma forma rápida, temos que ajustar com mão de obra de outros países”. Admitindo que uma política de imigração é algo lento de implementar e de trazer resultados, o orador lembra que “o fator tempo joga contra nós”.

Ainda da parte do Governo, Pedro Costa Ferreira espera que “estimule mas que não lidere, que fiscalize muito e bem” e que, quando necessário, “apoie efetivamente”, como aconteceu no caso da pandemia de Covid-19.

Por Inês Gromicho