Estratégia de turismo 2035: “É preciso olhar de novo para a realidade” e “definir as linhas de orientação para os próximos 10 anos”

O Museu do Design, em Lisboa, foi o palco para o arranque do debate público sobre o processo de construção da Estratégia Turismo 2035. Ao todo serão sete sessões públicas, que passarão por todo o país até final de novembro, havendo ainda lugar para algumas sessões temáticas. O objetivo, conforme explicou Carlos Abade, presidente do Turismo de Portugal, “é definir as linhas mestras de orientação para os próximos 10 anos” pois chegou o momento de “reolhar para a realidade e redefinir caminhos e estratégias”. Por um lado, porque a estratégia que atualmente está em curso (ET2027), foi aprovada em 2017, e desde então muito mudou. Mas, por outro lado, adianta o responsável, “a verdade é que, durante muitos anos, houve muita gente a fazer coisas boas em Portugal na área do turismo”, o que significa que se verificou, em muitos casos, uma antecipação em quase três anos dos objetivos propostos na estratégia em curso. E é por isso que, para Carlos Abade, “este é um momento muito importante para o turismo”.

Enquadrando o atual momento do setor turístico nacional, o presidente do Turismo de Portugal  fez questão de recordar que, neste momento, o país é 12º destino turístico mais competitivo do mundo, “o que significa que estamos entre os melhores, entre os líderes, e por isso temos a capacidade de trazer para Portugal um melhor turismo, para que com ele possamos contribuir para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar das pessoas”.

Além disso, em 2023 atingimos 77,2 milhões de dormidas e receitas de 25,1 mil milhões de euros. No último caso, o objetivo definido para 2027 era atingir-se os 27 mil milhões de euros e o orador lembra que, à data de agosto, houve um crescimento de 10% face a 2023, o que significa que “terminaremos este ano muito provavelmente com um valor acima dos 27 mil milhões de euros de receitas do turismo, três anos antes do objetivo definido”.

Na sua intervenção, Carlos Abade também apontou a dinâmica “muito forte” de evolução do setor, com uma lina de crescimento das exportações do turismo, entre 2017 e 2023, acima das exportações globais do país.

Por outro lado, verificou-se uma aposta na diversificação de mercado através de uma atuação conjunta entre o público e o provado, que permitiu que mercados como o EUA, Canadá, Brasil e agora Coreia do Sul possam atingir “quotas bastante expressivas”. Aliás, o mercado norte-americano é, neste momento, o quarto mais importante a nível nacional, sendo que em Lisboa é o primeiro e no Porto o segundo. “Vemos bem a evolução que se registou nos últimos anos e que permitiu sustentar aquilo que é o caminho que se pretendia, um caminho de crescomento em valor”, frisou.

Relativamente às metas propostas para 2027, Carlos Abade referiu-se ainda ao facto de se ter apontado como meta a diminuição da sazonalidade para 33,5%, sendo que, em 2023, se registou a menor taxa de que há registo, com 35,2%. Além disso, no que diz respeito à qualificação dos trabalhadores do setor, a verdade é que em 2015 30,2% dos funcionários do turismo tinham o secundário e 9,8% o ensino superior, sendo que o que se pretendia era que, no conjunto dos dois, se atingisse 60% em 2027; ora, no ano passado, esta percentagem já ia nos 54%.

A nível da dispersão, a ET2027 pressupunha que o crescimento do turismo fosse feito em valor, em todo o território, ao longo do ano e o presidente do Turismo de Portugal esclarece que houve, de facto, “um crescimento mais significativo no interior, do ponto de vista das dormidas, do que no litoral”.

Já a nível de metas ambientais, embora o programa estratégico em curso tenha sido disruptivo quando foi lançado, em 2017, Carlos Abade reconhece que “hoje temos que evoluir e ser mais inteligentes e específicos na definição das métricas”, explicando que não é possível atualmente avaliar estes parâmetros pelo número de empresas que têm soluções a nível ambiental, sendo fundamental medir também pelo seu impacto.

Impõem-se assim uma série de desafios que devem ser considerados neste debate público, defende o responsável, e que se prendem com a distribuição equitativa do valor gerado pelo turismo por todo o território, com a exigência de reinventar competências de gestão e liderança para uma cultura organizacional forte ou com a forma como o setor incorpora a dimensão tecnológica para ser mais eficiente na gestão do território e na gestão das suas empresas, pois “da eficiência resulta sempre a geração de valor, e é esta que estamos sempre à procura”. Além destes, é importante ainda mencionar o desafio da sustentabilidade ambiental, da responsabilidade social e da inclusividade, bem como de atrair e fidelizar o cliente para reforço da atratividade do setor. Fundamental ainda é selecionar novos mercados de cada vez maior valor acrescentado, aponta Carlos Abade, e diversificar as fontes de financiamento das empresas para criar condições para que estas acedam a fontes diversas.

Por Inês Gromicho