Entrevista (I): “A nossa missão é investir em empresas que tragam ideias disruptivas e uma equipa com capacidade para as executar”
Pedro de Mello Breyner é vogal executivo da Portugal Ventures, entidade que gere fundos de capital de risco e que tem atividade junto do setor do Turismo. Na empresa desde 2018 e com mais de 20 anos de experiência na área turística, esteve à conversa com a Ambitur numa tentativa de desmistificar o mundo do financiamento. Leia aqui a 1ª parte desta entrevista, publicada na íntegra na edição 343 da Ambitur.
Que tipo de entidade é a Portugal Ventures?
A Portugal Ventures é uma sociedade gestora de fundos de capital de risco. É uma entidade pública, no sentido em que é detida em 80% pelo Banco Português de Fomento. Foi criada em 2012 e resulta da fusão de três capitais de risco que existiam na altura: a Inovcapital; a AICEP Capital, que tinha como missão promover a internacionalização da economia portuguesa e das empresas portuguesas; e a Turismo Capital, uma sociedade gestora de fundos de investimento que, na altura, investia na área do turismo. Com esta fusão em 2012, o papel da Portugal Ventures, sendo um operador público, é preencher falhas de mercado. No fundo, desenhar e constituir instrumentos de investimento em áreas que outros operadores não estão a oferecer ao mercado, assumindo um risco provavelmente mais elevado que os outros operadores. Assim, assumiu a missão de investir em startups, sobretudo de base tecnológica, e esses foram os investimentos que também na área do turismo, a partir de 2012, foram efetuados. Eu e os meus colegas do conselho de administração assumimos funções em 2018 e viemos com a missão de concretizar investimentos, no turismo, não só de base tecnológica, mas também investimentos em modelos de negócio mais tradicionais, como alojamentos, operadores turísticos, empresas de animação turística e restauração.
De forma mais resumida, a nossa missão é investir em startups, em empresas que tragam ideias disruptivas, negócios que possam ser vistos como únicos, que tragam uma equipa com capacidade para os executar. Portanto, o nosso papel é assumir o risco ao lado desses empreendedores, contribuir para o crescimento do negócio e, uma vez cumprido o nosso papel, depois sair desses negócios.
As startups em que investem têm de ser portuguesas?
Têm que ser empresas que estejam sediadas em Portugal ou que, pelo menos, tenham uma parte muito relevante das operações instaladas no país. Isto quer dizer que o investimento que colocamos nas empresas tem de ter um impacto na economia nacional, criando também emprego qualificado.
De onde vêm as verbas da Portugal Ventures?
Temos 16 fundos de capital de risco sob gestão. Destes 16, dois são fundos que investem só em turismo. Os nossos fundos têm diversas fontes de financiamento, entre entidades públicas como o AICEP, o IAPMEI, o Turismo de Portugal, e também privadas, sobretudo bancos, algumas fundações e companhias de seguros. Do total de fundos, cerca de 70% têm origem em entidades públicas e 30% em empresas privadas.
Como é que funciona o processo de financiamento? Quem é que pode beneficiar?
Nós investimos em empresas de base tecnológica e em empresas de base não tecnológica. No caso da base tecnológica, temos uma carteira com 31 empresas: softwares de apoio à gestão, empresas de tecnologia que oferecem instrumentos para a área da eficiência energética, tecnologias da gestão de relação com o cliente.
Depois temos os projetos ligados a negócios de modelo mais tradicionais, onde temos unidades de alojamento, operadores turísticos, empresas de animação turística, uma base muito diversificada.
Há uma condição base para investirmos e que tem muito peso nas nossas decisões, que tem a ver com a equipa: todos os projetos têm de trazer uma equipa que evidencie ter as competências adequadas em termos de conhecimento, de experiência do negócio e capacidade de execução. Esta é uma condição transversal a qualquer investimento em que entramos, seja na área do turismo ou outra.
Focando no turismo, estes investimentos em projetos tecnológicos e não tecnológicos têm de ser projetos diferenciadores, que tragam inovação para o mercado e que contribuam sobretudo para três objetivos. O primeiro objetivo é melhorar a capacidade de gestão das empresas, e temos na nossa carteira de turismo exemplos de empresas com sistema de gestão de receitas, empresas que agilizam o recrutamento de recursos humanos ou que otimizam uma parte do processo de comunicação com o cliente. Depois temos um segundo objetivo de projetos que possam melhorar a experiência dos turistas e, dessa forma, aumentar o seu grau de satisfação, com exemplos que já temos de uma empresa que se encarrega de guardar e transportar as bagagens dos turistas enquanto eles estão a usufruir do território e temos outras empresas que oferecem experiências imersivas. E há um terceiro objetivo que é qualificar a oferta turística nacional e contribuir para aumentar a competitividade de Portugal como destino turístico, e aqui estamos sobretudo a falar dos modelos de negócio mais tradicionais ligados à área do alojamento, da animação turística e da restauração.
A Portugal Ventures fica com uma parte da estrutura acionista das empresas?
Sim, nós entramos no capital social das empresas, tornamo-nos sócios e parceiros e partilhamos o risco com os promotores dos projetos. Por isso, não gostamos de falar em financiamento, gostamos mais de falar em investimento. Assumimos sempre uma posição minoritária no capital social das empresas porque não queremos ser donos das empresas. Gostamos muito também de co-investir e, para isso, temos uma rede de parceiros de capital de risco que entram connosco no capital social das empresas e trazem conhecimentos, experiência de gestão e ajudam-nos a fazer crescer os projetos. Nós ficamos no capital social das empresas temporariamente, normalmente de três a seis anos, e temos como objetivo, quando os projetos já se valorizaram e já entraram em velocidade cruzeiro, promover o nosso desinvestimento que se pode concretizar na venda da totalidade da empresa ou apenas da nossa parte a terceiros, ou a recompra da nossa posição acionista pelos promotores dos projetos.
No balanço de 2022 falam em operações de follow-on. Isto é um acompanhamento contínuo às empresas?
Nós investimos nas empresas e depois acompanhamos os projetos. Portanto, nós somos um investidor ativo e até gostamos de nos apelidar como smart money, dinheiro que não é só dinheiro e que leva a conhecimento, networking e ajuda os projetos a crescer. Temos uma preocupação muito grande em ter um papel ativo enquanto estamos nos investimentos. Os nossos investment managers assumem um papel no conselho de administração das empresas com o objetivo de acompanhar o negócio e de o fazer crescer. Dentro da Portugal Ventures temos também uma área que se dedica exclusivamente a ajudar as nossas participadas a estabelecerem parcerias com empresas que já estão no mercado e, dessa forma, entendemos que temos um papel de intermediação muito relevante para que as nossas empresas, que são novas e pouco conhecidas no mercado, tenham maior credibilidade. Temos uma rede de parceiros que chamamos de corporate partners. Na área do turismo temos a ANA Aeroportos, a Vila Galé, o grupo Hotusa e a Vanguard Properties.
Fotos de Raquel Wise.