Consolidação: “A competitividade procura-se fazer no ganho imediato sobre as sinergias criadas”
Num setor onde a maioria do tecido empresarial é dominado por micro, pequenas e médias empresas, a consolidação, através de fusões ou aquisições, ou parcerias são cada vez mais uma opção. Falámos com alguns Conselheiros Ambitur e procurámos saber se o setor está a caminhar para esta consolidação, que vantagens e desvantagens este processo pode trazer às empresas e que dificuldades terão de enfrentar pelo caminho. Fique com a opinião de Miguel Quintas, CEO da Consolidador.com.
Qual a necessidade de consolidação do negócio turístico em Portugal?
A consolidação no mercado português de turismo advém de variadíssimos contextos, embora na sua essência o que se procura é viabilizar o aumento da capacidade negocial como meio para fazer crescer os resultados económicos. Mas a consolidação pode resultar da necessidade do aumento de competitividade, retirando concorrentes do caminho. Pode resultar da necessidade de obter economias de escala na produção, na compra e/ou na venda. Ou ainda de economias de escala na gestão dos próprio ativos. Pode ainda resultar na necessidade de criar consórcios com maior capacidade de investimento interno e externo. Ou até no interesse em criar grupos económicos com o objetivo final de os vender a um preço mais interessante.
No caso específico da hotelaria portuguesa acredito que exista uma pequena variável adicional: o aumento do leque da oferta de produtos em carteira para que se possa oferecer de um “cabaz” mais completo desses produtos aos clientes finais ou intermediários.
No caso específico da distribuição em Portugal, o controlo do canal é fundamental para os atores que necessitam de escoar o seu produto em carteira. Este é um aliciante adicional.
Que vantagens e desvantagens aponta para uma consolidação empresarial?
As vantagens claras são: o aumento da capacidade de negociação; rapidez de crescimento, em particular nos mercados maduros; sinergias de produto e de gestão e, finalmente, aumento da capacidade de investimento ou de superação de dificuldades financeiras.
As desvantagens são todas aquelas resultantes da perda de eficiência que podem ser geradas num mercado que possa perder capacidade concorrencial. Nestes casos, o cliente final acaba sempre por ser prejudicado assim como a capacidade de inovação.
As desvantagens são todas aquelas resultantes da perda de eficiência que podem ser geradas num mercado que possa perder capacidade concorrencial.
O que tem dificultado este caminho, quais os principais desafios?
Se separarmos a hotelaria (e as atividades de “incoming”), o mercado português é bastante pequeno, mundialmente falando. Em particular a nossa distribuição é demasiado pequena, pelo que o potencial para a rentabilizar é igualmente baixo. Além de que o segmento da distribuição está bastante povoado por microempresas. Desta forma, torna-se um alvo fácil para quem é maior, quer crescer e tem meios para o fazer. Neste particular destaco a Espanha como principal canal de consolidação por proximidade geográfica e por necessidade de rentabilizar a rede comercial instalada no país vizinho.
Os principais desafios prendem-se justamente com a dimensão da microempresa portuguesa a que se junta a necessidade de ter uma maior profissionalização da capacidade de gestão das empresas. Quando se procura consolidar negócios, procura-se quase sempre empresas de maior dimensão.
Os principais desafios prendem-se justamente com a dimensão da microempresa portuguesa a que se junta a necessidade de ter uma maior profissionalização da capacidade de gestão das empresas.
As parcerias são uma opção?
As parcerias são decisões estratégicas, mas sempre muito “pessoalizadas” e que, pela sua fragilidade, tendem a ter limite temporal relativamente curto. Podem ser boas na dinamização de negócios pontuais. Se forem boas durante muito tempo, passa-se a uma estrutura de sociedade ou aquisição.
Este será o grande salto para uma maior competitividade, em que áreas?
As aquisições têm, normalmente, um efeito perverso na competitividade das empresas por via do desinvestimento em inovação. Logo, a competitividade procura-se fazer no ganho imediato sobre as sinergias criadas (normalmente nos preços de compra e venda) e eventualmente, no médio prazo, nas melhorias do produto por efeito das economias de escala. Neste sentido podemos dizer que se ganha competitividade. Mas se o mercado perder capacidade concorrencial como um todo, então não vejo vantagens no médio prazo.
No seu entender, estamos mais perto de uma aceleração a este nível?
Estamos. Quanto mais maduros são os mercados, maior a probabilidade de fusões e aquisições. E dentro da maturidade, quanto mais pequena for a dimensão dos atores, maior a probabilidade de isso acontecer. Acredito portanto que iremos assistir a movimentações deste estilo no mercado português durante os próximos tempos.