Conselheiro Ambitur: “Prevejo um impacto negativo na rentabilidade, em particular no segmento business”

Numa altura de incertezas quanto aos próximos tempos na economia europeia e de como o turismo irá reagir, a Ambitur.pt está a ouvir alguns dos seus Conselheiros no sentido de perceber de que forma perspetivam o momento presente e futuro. Hoje é a vez de falarmos com Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com.

O cenário de juros altos nos próximos anos obriga a um novo paradigma de gestão?

Um cenário de subida sustentada e prolongada das taxas de juros, entre muitos outros impactos económicos relevantes, arrasta consigo dois fatores determinantes: a redução imediata da capacidade financeira das pessoas e um aumento do desemprego por efeito da redução do consumo (as empresas produzem menos). O Banco Central Europeu tem procurado ser o mais transparente possível na gestão da variação das taxas de juro, pelo que não deverá haver surpresas de curto prazo que não tenham já sido antecipadas pelos governos, grandes empresas, economistas e mercado no geral. Penso que a previsão correta será contarmos com uma redução da evolução económica mais severa que nos últimos meses, dado que a liquidez injetada na economia em período de Covid tem vindo a ser reduzida. No caso do turismo em particular, prevejo também um impacto negativo na rentabilidade, em particular no segmento business e, naturalmente, nos demais negócios alavancados no crédito, nomeadamente hotelaria. Acredito no entanto que na vertente lazer o impacto negativo seja de menor monta que o restante mercado, fruto do posicionamento que o turismo tem na vida particular das pessoas.

Na sua opinião, aproxima-se um cenário de retração económica na Europa?

Acredito que se aproxime um cenário de redução de crescimento económico, sim. Em particular nos países do Sul da Europa. Tal cenário pode ajudar as atividades de incoming.

Se, por um lado, há consequências ao nível dos mercados europeus, quais poderão ser as consequências ao nível dos mercados fora da Europa?

A situação é tendencialmente idêntica e tudo depende do tempo em que o BCE manterá a subida das taxas de juro, o qual já anunciou que não sabe quando as irá alterar novamente. É portanto provável que se assista a uma valorização das moedas estrageiras face ao Euro sendo que um tempo de correção alargado pode significar uma redução de turistas de mercados sem paridade do Euro. Depois, cada governo decidirá o que é melhor para cada economia ou gestão estratégica. Se tudo o resto se mantiver constante, tendencialmente receberemos menos turistas fora da zona Euro (ou de economias com paridade cambial).

O turismo tem-se mostrado resiliente em períodos de dificuldade económica. Este facto permite encarar com maior normalidade o futuro do turismo nacional no que diz respeito aos mercados externos?

Sem dúvida. Estas flutuações dos períodos de dificuldade económica, com maior ou menor espaço temporal, têm sempre um limite no tempo. O que sabemos é que o turismo é já quase uma necessidade básica, pelo qual, mesmo em épocas de crise a atividade não é tão elástica quanto a maior parte dos produtos ou serviços consumidos mundialmente. Ou seja, teremos turismo? Sim. Embora os clientes mais afetados sejam aqueles que encontram o seu salário médio mais próximo do salário mínimo e a atividade “corporate”, naturalmente.

Qual a perspetiva de evolução da procura no mercado interno no próximo ano?

Eu estimo que haja uma ligeira redução da procura no mercado interno, embora sem grande impacto na hotelaria. Na verdade, a hotelaria portuguesa tem demonstrado uma excelente capacidade de reação para resolver problemas, quer no lado da procura, quer no lado da oferta. Penso que as principais alterações que se podem vir a notar serão: redução das chegadas do turista “não-europeu” e do consumo interno da classe média/ baixa colmatada com um ligeiro crescimento do consumo interno da classe média.