Conselheiro Ambitur: Este deve ser “um compromisso inquebrável de se honrar o projeto de entregar ao país um novo aeroporto no mais curto prazo possível”

O Governo liderado por Luís Montenegro anunciou a localização do novo aeroporto de Lisboa, recaindo a escolha sobre Alcochete. Ambitur quis ouvir os Conselheiros sobre esta decisão e de que forma afeta o turismo em Lisboa e Portugal. Hoje é Frédéric Frère, CEO da Travelstore, que nos deixa a sua visão.

Depois da última década de anúncios sobre um novo aeroporto para a região de Lisboa, a atual decisão do Governo parece-lhe definitiva, que passos se seguem?

Como sabemos, chegou finalmente uma decisão muito esperada e, antes de mais, penso que se deveria retirar os ensinamentos sobre o porquê de tanta e prolongada ineficiência na incapacidade em se decidir. Agora que a decisão está tomada, os próximos governos devem fazer tudo para que, independentemente de quem anunciou a decisão, esta não seja um mero anúncio para se ganhar votos em vésperas de eleições mas sim um compromisso inquebrável, perante os Portugueses, de se honrar o projeto de entregar ao país um novo aeroporto no mais curto prazo possível.

O que pode representar o novo aeroporto para a região de Lisboa em termos de novos investimentos turísticos?

Penso que pode, antes de mais, contribuir para a melhoria da experiência dos visitantes e utilizadores, o que só em si já deverá contribuir para o crescimento económico porque o segredo de qualquer negócio sólido é de ter um cliente satisfeito. A esse propósito uma nota para evidenciar a má experiência frequente dos viajantes não Schengen sujeitos a longas filas de espera à chegada dos seus voos.

Depois significa capacidade de se acolher mais visitantes no longo prazo. Aproveito no entanto para realçar a importância de se apostar num turismo de qualidade e não de quantidade ou, pelo menos, que a quantidade não seja sinónima de pouca qualidade. Tenho constatado uma antipatia cada vez maior pela saturação de turistas em várias cidades Europeias (estou a escrever estas linhas em Roma onde cada vez mais as pessoas se queixam do fenómeno do over tourism…).

O turismo de negócios e de meetings & events é um segmento que deveria contribuir a fazer crescer a procura de forma sustentável porque tem provavelmente um menor impacto “de rua”.

Poderá haver um crescimento considerável de turistas para Lisboa com a nova infraestrutura? Ou ainda é cedo para prognósticos?

Acho que é muito cedo para prognósticos mas, apesar de tudo, descontando o impacto dos ciclos de procura, penso que no longo prazo podemos sim prever um aumento significativo, não esquecendo que o impacto não é só a nível de Lisboa mas também do resto do país porque Portugal se visita muito bem em poucos dias de carro e os road trips estão muito na moda!

O TGV Lisboa-Madrid é uma das peças do puzzle que faltava para uma maior acessibilidade dos mercados europeus a Portugal?

Sim, incontestavelmente, não só em termos de acessibilidade como também pelo facto de muitos viajantes apreciarem viajar de comboio e a preocupação ambiental estimula esse modo de transporte. Prevejo que a linha TGV irá fortemente contribuir para o aumento da atividade económica entre Madrid e Lisboa (e norte do país) com muitos viajantes de negócio a circular nos dois sentidos.

Para a continuação do desenvolvimento turístico nacional que outros pontos chave são importantes ao nível de decisão do Governo?

Para mim, o ponto mais importante é que os governos (no plural) deem continuidade a uma política suprapartidária e de interesse nacional e que a mudança futura de governos não seja fator de atraso na concretização dos projetos anunciados em que cada novo governo reponha em questão as opções dos anteriores. Penso que se deveria pensar em constituir uma equipa pluripartidária, com participação de gestores (muito) competentes nomeados pelos principais partidos e comprometidos para entregar os projetos no menor curto prazo possível.