Conhecer a Argentina, ou pelo menos uma parte deste que é o segundo maior país da América do Sul, foi a proposta irrecusável da Lusanova, em parceria com a Air Europa, entre 12 e 20 de maio. A Ambitur rumou a este destino com um grupo de agentes de viagens partilhando do mesmo objetivo comum: explorar o país pela primeira vez e aproveitar ao máximo a imensidão de possibilidades que ele nos traz.
É na capital que desembarcamos, após um voo de mais de 12 horas, com escala em Madrid logo no início. Houve quem conseguisse dormir e também quem não pregasse olho noite dentro, mas ao aterrarmos em Buenos Aires o cansaço parece desaparecer (mesmo que apenas por algumas horas) sendo substituído por um entusiasmo e curiosidade em conhecermos a intensidade desta cidade, por tantos descrita como aquela que nunca dorme.
Na verdade, são muitas as paixões que dominam Buenos Aires, e que nos encantam a cada momento. Desde o famoso tango argentino, reconhecido pela UNESCO como Património Cultural Imaterial da Humanidade, à maravilhosa carne, passando por toda a cultura e arquitetura, bem como pelo amor pelo futebol ou ainda os vários parques verdes que surgem em diferentes recantos da cidade. Tudo isso nos espera, mas com pouco tempo para sentirmos cada uma destas “paixões”, pois Buenos Aires merece uma visita de pelo menos cinco dias, que nos permita deambular pelas largas avenidas ou ruelas estreitas; visitar algumas das mais de 400 salas de teatro que aqui existem; assistir a um jogo de futebol do Boca Juniors ou do River Plate; viver a noite nos inúmeros bares e espaços dedicados ao tango; experimentar as famosas pizzarias das quais a Guerrin, na Avenida Corrientes é uma das mais famosas e mais antigas, do alto dos seus 90 anos; conhecer por dentro as inúmeras livrarias que também são marca de Buenos Aires, e entre as quais El Ateneo, com 100 anos, é considerada uma das mais belas da América Latina; ou mesmo fazer compras nos centros comerciais ou mercados mais tradicionais que animam a cidade.
À nossa espera no aeroporto temos Gladys, a guia que nos acompanhará enquanto estivermos em Buenos Aires. Portenha, ou seja, natural de Buenos Aires, fala um português quase perfeito (não esquecer que os brasileiros são turistas neste destino há já muitos anos) e vem com a energia perfeita para que não percamos tempo e comecemos imediatamente a explorar esta cidade.
Desde logo ficamos a saber que o trânsito em Buenos Aires é muito complicado. Do Aeroporto Internacional de Ezeiza, que fica a apenas cerca de 30 quilómetros da capital argentina, espera-nos uma viagem de pelo menos uma hora, até porque estamos em hora de ponta. Atualmente vivem aproximadamente 3,1 milhões de pessoas na cidade mas a verdade é que, todos os dias, entram em Buenos Aires mais três milhões para ali trabalharem. O que significa que, apesar das largas avenidas que a caracterizam, os inícios e finais dos dias são sempre bastante movimentados e exigem paciência.
Depois de um rápido check-in no hotel que nos receberia esta primeira noite, o Grand Brizo Bel Air, no bairro da Recoleta, estamos finalmente prontos para assumirmos o papel de turistas. E, no minibus que nos aguarda, voltamos a atravessar a Avenida 9 de Julho, a principal e considerada uma das mais largas do mundo, assim designada em homenagem ao dia da Declaração da Independência da Argentina, 9 de julho de 1816. Repleta de jacarandás de ambos os lados, conta-nos Gladys que é entre a segunda quinzena de novembro e a primeira de dezembro que a cor lilás enfeita esta avenida, e a cidade, um espetáculo que garante encantar todos os que por lá passam.
É aqui que avistamos o Obelisco, localizado na Praça da República, que fica na interseção da Avenida 9 de Julho com a Avenida Corrientes. Trata-se de um monumento histórico, construído em 1936, para celebrar o quarto centenário da primeira fundação da cidade, e que se transformou num símbolo de Buenos Aires. Com 67 metros de altura, é feito de cimento e revestido em mármore, e é um ponto obrigatório para uma fotografia.
Mas o nosso objetivo agora é visitarmos o Teatro Colón, a principal casa de ópera de Buenos Aires que, na verdade, é o segundo Teatro Colón, inaugurado em 1908, após 18 anos de construção. Com a guia Iara, que também fala um português fluente, passamos pela Sala de Bustos – onde encontramos Bizet, Beethoven, Rossini ou Mozart – e pelo Salão Dourado, inspirado no Palácio de Versalhes, e utilizado para fins sociais. O auditório, em forma de ferradura, permite sentar 2487 espetadores e tem mais 1000 lugares em pé, de frente para um palco com 20 metros de largura, 15m de altura e 20m de profundidade. Mas o que marca este espaço é, sem dúvida, a acústica, sendo hoje considerado um dos cinco melhores teatros a este nível em termos mundiais.
Continuando a explorar a cidade, avistamos, ao longe, o novo bairro residencial e comercial de Puerto Madero, que mais tarde podemos atravessar. Conhecido como um dos mais modernos e elegantes bairros de Buenos Aires, hoje alberga vários hotéis de luxo, avenidas amplas, parques verdes, monumentos, universidades, restaurantes, teatros e cinemas, entre muitos outros atrativos, que fazem dele hoje o bairro mais caro e exclusivo da cidade. È nele que encontramos a Puente de La Mujer, projetada pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, uma ponte pedestre e giratória, que atrai curiosos pelo seu desenho de um casal a dançar tango. Este bairro estende-se por cerca de 140 hectares mas é o menos populoso de Buenos Aires e tem a peculiaridade de ter dado nomes de mulheres a todas as ruas, incluindo políticas, professoras, artistas e outras figuras importantes.
De volta à parte “velha” de Buenos Aires, na Plaza de Mayo, a mais antiga da cidade, somos transportados para tempos de grandes concentrações populares, como foi o caso da Revolução de 25 de maio de 1810, que deu início à independência da Argentina, ou mais recentemente várias manifestações políticas e local de reunião das Abuelas de Plaza de Mayo, que ali reivindicam o desaparecimento de filhos e netos no processo militar argentino. Rodeiam-na inúmeros edifícios históricos, como a Casa Rosada, sede da Presidência da República Argentina em Buenos Aires, um edifício de cor rosa que foi declarado monumento histórico nacional e que aloja, no seu interior, o Museu da Casa do Governo. À direita da praça podemos ver a Catedral Metropolitana, a principal sede da igreja católica neste país, que hoje é também monumento histórico nacional e considerada uma das obras arquitetónicas mais importantes da época colonial.
Um pouco mais afastado, mas muito procurado pelos turistas, fica o bairro mais antigo da cidade, La Boca, onde está instalado o estádio da equipa de futebol que dá pelo mesmo nome, o Boca Juniors, com as suas cores de azul e amarelo. Foi também aqui que nasceu o seu rival, o River Plate, que acabou por se mudar para o bairro de Nuñez, no norte da cidade. O bairro nasceu a partir da construção de um porto no Rio de La Plata e na altura alojou muitos imigrantes, sobretudo espanhóis e italianos. Quando ali se instalaram, construíram os famosos “conventillos”, pequenos edifícios de madeira e ferro onde cada quarto era alugado a uma família diferente. Hoje estas casas ainda existem e são parte do que faz a imagem deste bairro, com as suas cores variadas pois eram pintados com os restos de tintas que chegavam com os navios. Hoje, não há quem não passeie pelo icónico Caminito, um passeio que, em tempos fazia parte dos caminhos-de-ferro e cuja linha foi desativada em 1928. Pode dizer-se mesmo que atualmente é um museu a céu aberto, com algumas bancadas onde artistas locais expõem as suas obras e o seu artesanato, e onde a influência do tango não passa despercebidos. Além de cafés e restaurantes são também várias as lojas de roupa e de souvenirs que atraem centenas de turistas de todo o mundo, todos os dias. Mas a nossa guia aconselha-nos a visitar o bairro, no máximo, até às 17H30, por questões de segurança, por isso se está a planear uma visita, chegue até 15H00, para ter tempo para passear sem pressas.
É também em Buenos Aires que é possível tirar uma fotografia sentados ao lado da emblemática e curiosa Mafalda, e dos seus amigos Manolito e Susanita, na esquina das ruas do Chile e da Defesa. A escultura, inaugurada em 2009, é hoje um ponto de referência popular, e fica a poucos metros da casa onde viveu Quino, o criador desta personagem tão querida de todos. Foi aqui, no bairro de San Telmo, uma zona boémia, mais concretamente no número 371 da rua Chile, que Joaquin “Quino” Lavado desenvolveu a história da Mafalda e no “Paseo de la Historieta”, que prossegue por outras ruas e parques deste bairro, é possível encontrar outras esculturas de personagens de contos argentinos. Além da escultura que homenageia esta personagem, existe ainda uma Plaza Mafalda, em Conde, onde se podem ver murais e painéis com banda desenhada das histórias de Quino.
Navegar pelo delta do Tigre
Quem vai a Buenos Aires não pode deixar de explorar também os arredores da grande cidade. Na Grande Buenos Aires são mais de 13 milhões os habitantes que se distribuem pelo norte, oeste e sul, originando zonas com as suas características distintas. A zona norte, por exemplo, é onde a classe mais elevada escolheu instalar-se e na zona sul os bairros são de famílias mais humildes.
A nossa viagem leva-nos ao município de Tigre, a norte, que será o quinto mais populoso da região metropolitana de Buenos Aires, a cerca de 45 minutos da capital argentina, e também um dos mais seguros. Aqui é possível embarcar num barco tradicional e navegar pelo delta do rio Tigre, conhecendo melhor as suas ilhas, apenas acessíveis pela água.
Aqui não faltam restaurantes e parques infantis, percebendo-se que se trata de uma zona residencial tranquila e familiar, com casas bem cuidadas e bonitas.
Mas são as excursões de barco que acabam por atrair a maior parte dos turistas que não querem perder a oportunidade de navegar pelo delta no qual confluem cinco rios: Luján, Carapachay, Angostura, Espera e Sarmiento.
A bordo de um dos catamarãs da Amartigre, uma das várias companhias que proporcionam este tipo de excursões, embarcamos num passeio que se designa por “3 Rios”, e que terá a duração de cerca de 1h15, mas também pode optar pelo passeio “6 Rios”, de cerca de 2H00, e que tem a opção de almoçar a bordo.
A nós esperam-nos os rios Tigre, Lujan e Sarmiento. Na primeira parte da viagem, há quem arrisque ir no deck superior do catamarã, apesar do vento e ar fresco, pois é aí que se conseguem as melhores fotos e onde podemos sentir a agitação destes canais, onde não faltam barcos de todos os tamanhos.
Com um áudio-guia que nos acompanha durante a viagem, podemos observar as mansões antigas que dão cor às margens destes rios, clubes de remo ou o Museu de Arte do Tigre. É para estas zonas que muitas famílias argentinas “fogem” do movimento citadino durante os fins-de-semana ou férias, e é possível vermos os barcos cheios de malas e sacos com comida de argentinos que regressam de um fim-de-semana de descanso nas suas casas ou em casas alugadas.
É em Tigre também que estão instalados um parque de diversões e um parque aquático que fazem as delícias de todos, pequenos e graúdos. O Parque de La Costa promete diversão e aventura, com montanhas-russas, passeios aquáticos e espetáculos ao vivo.
O Tango, na cidade do Tango
Uma viagem à Argentina, e a Buenos Aires, nunca ficaria completa sem assistir a um espetáculo de tango. Mas primeiro há que conhecer a história deste tipo de dança, nascido no final do século XIX e, desde 2009, reconhecido como Património Cultural imaterial da Humanidade pela UNESCO. Terá surgido nas margens do Rio da Prata, em Buenos Aires, como uma mistura de ritmos africanos, europeus e locais, como o candombe, a habanera, a milonga e músicas populares europeias. E, claro, terá nascido nos bairros mais humildes da cidade, onde viviam os imigrantes europeus e onde se misturavam diferentes culturas e grupos sociais. Aliás, há quem associe o tango às casas de prostituição, onde era uma forma de entretenimento para os clientes que aguardavam pela sua vez. Os instrumentos musicais mais utilizados eram o violão, a flauta e o violino, bem como um pequeno acordeão, o “bandoneon”.
Rapidamente esta música se espalhou por toda a Argentina e também por outros países, como os EUA e a Europa, através das elites argentinas, que acabaram por se interessar pelo tango e disseminá-lo por outras partes do mundo.
Hoje é um símbolo da cultua argentina e apreciado por todas as classes sociais. Se, no início, era dançado por dois homens, que não trocavam olhares nunca, mais tarde passou também a ser interpretado por mulheres. Hoje, é dançado em casal, com os bailarinos unidos de forma íntima e sensual, o ritmo marcante, as melodias complexas e as letras que se inspiram no amor, na saudade e na vida em geral são características distintivas.
Para comprovar esta descrição, fomos até ao Café de los Angelitos, histórico na cidade, e já com mais de 100 anos, que fica na esquina da Avenida Ribadavia e Rincón, no bairro de Balvanera. Aqui é possível assistir a um espetáculo de tango, com a opção de jantar primeiro. É o que fazemos. Depois de uma experiência gastronómica onde não faltam as famosas empanadas argentinas, bife de chorizo ou uma mousse de doce de leite, entramos finalmente num ambiente de boemia com vários bailarinos que, ao som da orquestra formada por cinco músicos, e acompanhados por dois cantores, nos levam numa viagem desde os anos 20 até aos dias de hoje. Trata-se de um espetáculo dinâmico e cheio de uma energia contagiante, com a duração de cerca de uma hora, onde os corpos dos casais parecem estar em transe com ritmos precisos e complexos que nos obrigam a não desviar o olhar por um segundo que seja.
Não faltam emoção, paixão, tristeza, e também muito improviso, uma característica que faz parte de quem dança o tango: saber improvisar ao sabor da música, numa sintonia perfeita entre os dois bailarinos que exalam sensualidade a cada movimento.
Não havia forma melhor de terminar esta viagem a Buenos Aires do que mergulhar na magia do tango argentino, numa noite especial que celebra a cultura deste país que tem tanto para dar a conhecer.
Onde dormir?
- Grand Brizo Bel Air, no bairro de Recoleta
- Loi Suites Recoleta Hotel
Onde comer?
- Piegari Ristorante, Posadas
- María Lujan, Tigre
Como chegar a Buenos Aires?
A Air Europa tem voos diários para a capital da Argentina, a partir de Lisboa e do Porto, via Madrid, com os seguintes horários:
- Lisboa-Madrid: 20H05
- Porto-Madrid: 20H10
- Madrid-Buenos Aires (Aeroporto Internacional Ezeiza): 23H55


























































