ADHP: “Se procurarmos, a palavra turismo não existe na estratégia de Portugal nos próximos anos”

É entre as cidades de Vila do Conde e Póvoa de Varzim que decorre o XVIII Congresso Nacional ADHP (Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal). Entre os dias 31 de março e 2 de abril, o evento que se afirma como “ponto de honra” entre hoteleiros e players do turismo, tem como mote “Atrair Talento, Recuperar o Setor, Planear o Futuro”.

“Um encontro de trabalho, mas também de amigos”. É assim que Raúl Ribeiro Ferreira, presidente da Direção da ADHP, começa por definir o Congresso, não deixando, contudo, de lamentar as dificuldades que foram sentidas: “Foi um caminho difícil de reunir todo o consenso, o que demonstra que, num país que quer ser uma marca nos eventos, ainda há um caminho grande a fazer para que tudo flua com mais facilidade”.

O presidente da ADHP, que falava na sessão de abertura, partilhou ainda uma outra preocupação que, além juntar à pasta do Turismo, o Comércio e os Serviços, tem que ver com a nova estratégia do Governo: “Se procurarmos a palavra ‘turismo’, não existe na estratégia de Portugal nos próximos anos”.

Olhando aos desafios que o turismo enfrenta há anos, o presidente da ADHP começa por recordar o primeiro congresso, em 2013, que teve como tema “Pessoas para Pessoas”. Apesar de ser uma “expressão que está na moda”, Raúl Ribeiro lembra que, na altura, era um problema: “Sabíamos que era evidente e que iria levar a uma diminuição da atratividade do nosso setor para recrutamento de capital humano”. Para além dos vencimentos, que são um desafio, acresce, agora, a “gestão de expectativas e a gestão de carreiras dos jovens” que não está a ser acautelada: “Sabemos que, nos últimos dois anos atípicos, o foco era outro, mas continuamos a aguardar a alteração da tabela de classificação dos hotéis, com a introdução da valorização dos recursos humanos em que apareça uma pontuação para aqueles empreendimentos que apostam em mão de obra mais qualificada”. O presidente da direção da ADHP apela à importância de se “criar carreira e desafios para que os profissionais cheguem e fiquem neste setor”.

Numa altura em que se “quer fazer diferente”, o responsável levanta uma série de questões que precisam de respostas: “Queremos perceber o porquê da formação contínua ser uma aposta e as associações não terem acesso ao financiamento para fazer formação”. Outro exemplo é o facto de, o “Nível 4 de ensino que é feito nas escolas ou liceus” sob a chancela de “formação profissional”, ser feito com “pouca qualidade” ou de, no “nível superior”, com a pressão sobre “doutoramentos e publicações”, quando se “descura a importância de ter profissionais do mercado a trabalhar junto às escolas”, algo que origina um afastamento, cada vez maior, entre o mercado e ensino, alerta. Ainda na formação, o responsável não entende “como é que um curso HACCP conta para formação profissional” e um “mestrado ou licenciatura” não fazer a mesma equivalência para as horas de formação: “Uma empresa que quer pagar a um funcionário para ir fazer um mestrado tem que fazer um curso de 35 horas por ano”.

Neste cenário, o responsável volta a reforçar a importância de dar aos profissionais maiores incentivos para possam melhorar e continuar a trabalhar: “Somos uma indústria de pessoas e sabemos que a presença do potencial humano é o que vai fazer a diferença e a qualidade nas unidades”.

[blockquote style=”1″]“Somos uma indústria de pessoas e sabemos que a presença do potencial humano é o que vai fazer a diferença e a qualidade nas unidades”.[/blockquote]

Neste que, provavelmente, será o último discurso de Raúl Ribeiro Ferreira, enquanto presidente da ADHP, visto que, a partir de agora, se iniciará um novo mandato, o responsável sublinha que a associação vai reger-se pela mesma premissa: “É o caminho da ordem dos diretores de hotel que traz maior profissionalismo, reconhecimento e capacidade para uma melhor gestão”. Além disso, os eixos de atuação serão também os mesmos: “Acreditamos na certificação, na valorização profissional, no convívio e no conhecimento entre pessoas”.

Olhando para o futuro, o responsável lembrou que a Estratégia 2027 do Turismo está longe de ser alcançada, mesmo com o Turismo de Portugal a esforçar-se para convencer do contrário: “Estes dois anos provocaram atrasos que podem ser difíceis de resolver, sendo estruturas que apoiam o turismo um bom exemplo”.  É o caso do novo aeroporto ou as linhas ferroviárias de alta velocidade que continuam sem resolução: “Sabemos que é praticamente impossível (cumprir a Estratégia) sem estas estruturas de apoio”. Também o “ambicioso”  Plano de Sustentabilidade para 2030 precisa, no entender de Raúl Ribeiro Ferreira, de, entre várias obrigações, ser acompanhado de um “investimento ou de apoios claros” para todos os envolvidos.

Neste três dias de Congresso, que conta com 400 inscrições, o debate centra-se na atualidade e no futuro da hotelaria e do turismo.